segunda-feira, janeiro 23, 2006

A Razão dos Animais Falantes

animais falantes
«Isso foi no tempo em que os animais falavam».
Quantas vezes já ouviram esta expressão? Pois é. Aparentemente há muito muito tempo atrás os animais tinham a capacidade de falar. Ninguém consegue dizer exactamente qual foi a altura em que eles perderam esta faculdade. Só se sabe que um dia houve um big bang linguístico qualquer e os gajos perderam o pio. O papagaio foi o único que se safou, mas ficou limitado a repetir tudo o que ouvia: uma versão com penas de José Sócrates sempre que se desloca ao estrangeiro.
A cobra com sotaque tripeiro, o papaformigas com sotaque beirão, o jumento que dominava cinco idiomas, e a vaca que recitava Yeats com um sotaque genuinamente irlandês, emudeceram de um dia para o outro. O curioso nesta história toda é que nunca se fala no Homem neste processo de perda da fala.
Parece que o crescimento da espécie humana está correlacionado com este silêncio animal. Até então o Homem nunca teve grandes hipóteses de sobrevivência num mundo de animais falantes. «Olha ali um grupo de cromagnons a quererem lixar o mamute à pedrada» dizia um tigre de Bengala para outro colega deficiente, «tu vai lá ali num instante chamar os nossos amigos rinocerontes». E o outro ia. E os cromagnons lixavam-se.
Quando os animais perderam a fala as coisas complicaram-se de sobremaneira. É que dizer «topa-me ali à direita uma task force de australopitecos» sem poder usar palavras, requeria um poder mímico que nenhum animal estava preparado para usar. Como é que um gajo diz «australopiteco» em mímica? E os animais lixaram-se.

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