sexta-feira, dezembro 16, 2005
quinta-feira, dezembro 15, 2005
A Razão do Maior
Geralmente a auto-estima de um país está directamente relacionada com os seus metros quadrados. Não há-de ser à toa que os bandalhos dos americanos têm uma auto-estima estupidamente (e a utilização deste adjectivo não é metafórica) elevada.
Porém é curioso ver como a rasteira auto-estima nacional procura tratar-se à base de placebos que têm a ver com o tamanho. Na realidade, esta obsessão pelo tamanho revela aquele que é um dos problemas basilares do país: não interessa a qualidade – estamos completamente focados na quantidade. Ser os melhores é algo que nos transcende. O que interessa mesmo é sermos os maiores, mesmo que o sejamos só lá no nosso bairro: ter a maior árvore de Natal da Europa; ter o maior pão com chouriço do mundo; ter a segunda maior ponte da Europa; isto sem falar das coisas que são «maiores» só porque se dizem da boca pra fora – o Benfica é o maior, o Porto é o maior, não interessando grande coisa porquê.
Ser o maior em Portugal é bom. Uma espécie de complexo de pila pequena que se gaba de ter a maior erecção. Há-de servir de muito...
quarta-feira, dezembro 14, 2005
A Razão do Presépio (II)
Estava lá toda a gente: gays magos, vaca com distúrbios profundos do foro psicológico, burro manso, cornudo equivocado, virgem saciada, e criança nas palhas deitada. No meio de incenso, ouro e mirra alguém repara (num lampejo transcendente que faria corar Lobsang Rampa e mais a sua terceira visão – silogismo trapalhão do seu transcendental olho rectal) que havia uma zebra no cenário. A zebra estava a mais e não o sabia. Não havia registo de zebras em Jerusalém. Ninguém fazia ideia do que era aquele ser bicromático. Então alguém se lembra de que o vinho dava de comer a um milhão de portugueses. E tudo faz sentido a partir daí: o Salazar, o Américo Tomás, os páras de Tancos e o Salgado Zenha; o Álvaro Cunhal, tutor de Mário Soares, a chegar de Paris. A intentona e a Passionária. Os contrabandistas e o Paco Bandeira. O Ary dos Santos e os Sábados (tipo Papo-Seco) agitados.
De repente, no meio desta alucinação, provavelmente de origem geracional, tudo se confunde e tudo faz sentido. Assim como se fosse uma espécie de universo descodificado à boa maneira de Douglas Adams. E tudo recomeça de acordo com a sua maldição: tudo faz sentido como num sonho. E os pinguins continuam a sonhar com ameijoas enjoadas com crude: Dali Style, ou Vian style. E toda a gente percebe o que se está aqui a dizer como se não houvesse amanhã.
Abençoados os pobres de espírito, pois será deles o reino dos céus. A zebra continua impassível no meio disto tudo. Como se nada fosse.
Este foi um momento de impossibilidade quotidiana. Façam o favor de o aproveitar e de retirar o que de mais positivo nele encontrarem. Gesundheit!
terça-feira, dezembro 13, 2005
A Razão do Presépio
É sempre nesta altura do ano que inevitavelmente percebo que vivo num presépio povoado de figurinhas de barro, pintadas toscamente, que desempenham ano após ano os mesmos papéis. Em Portugal, tal como num presépio, nunca nada muda. As figurinhas são sempre as mesmas, dispostas nos mesmos sítios e fazem sempre a mesma coisa, ou seja, nada. Estão para ali com um ar petrificado, eternamente imobilizadas em torno de uma cabana com um burro, uma vaca, e um casal de tótós que admira incompreensivelmente uma criança loira estiraçada num berço feito de palhas. Há subjacente a tudo isto, uma expectativa qualquer que nenhuma das figurinhas entende. Uma expectativa de mudança e de melhoria gerada pelo nascimento da criança de cabelos loiros. Mas é uma expectativa cristalizada no próprio presépio. Daqui por um ano a criancinha continuará espojada no seu leito de palhas, rodeada por tótós e gays magos, e tudo continuará na mesma.
segunda-feira, dezembro 12, 2005
A Razão do Calendário de Garagem
No seguimento da série de objectos inúteis do quotidiano temos o calendário de garagem. Este objecto distingue-se dos vulgares calendários pela quantidade de mulheres total ou parcialmente desnudas em poses do tipo «anda cá que és meu» ou «só te deixava os ossinhos», e pela sua localização muito particular: não há oficina mecânica deste país que não tenha um calendário de garagem. Há quem diga que o calendário de garagem é o manifesto de masculinidade do mecânico – e que se porventura não encontrar um calendário de garagem na sua oficina habitual, é muito provável que o seu mecânico seja gay. Pessoalmente acho esta leitura excessiva, mas não deixo de me questionar sobre o sucesso e a proliferação dos calendários de garagem nas oficinas e sobre a sua verdadeira função. Assinalar os dias do ano parece estar fora de questão, uma vez que isso pode ser feito com um qualquer calendário que não exiba umas glândulas mamárias proeminentes. O que nos leva ao cerne da questão: as gajas do calendário.
A verdadeira razão do calendário de garagem é a produtividade provocada pela testosterona, potenciada pelas boazonas em poses de cadelas com cio: o polimento da carroceria faz-se em muito menos tempo; o alinhamento da direcção é impressionantemente mais apurado; a calibragem das rodas adquire uma precisão robótica; a focagem de faróis faz inveja a qualquer robot de fábrica.
E em cada mês que passa, uma nova boazona vem substituír a anterior mantendo elevados os índices de produtividade.
Pergunto-me se isto não deveria ser considerado uma best practise para a Função Pública. Um calendário de garagem em cada repartição poderia ser a solução para este país.
domingo, dezembro 11, 2005
A Razão do Universo
sábado, dezembro 10, 2005
sexta-feira, dezembro 09, 2005
A Razão da Estranheza
quinta-feira, dezembro 08, 2005
quarta-feira, dezembro 07, 2005
A Razão da Reencarnação
H e D viveram um tórrido romance de amor. Eram almas gêmeas, diziam eles. Apaixonaram-se aos dois anos de idade, algures em 1423, casaram aos cinco, tiveram aos doze o primeiro de 38 filhos, morreram trisavós jurando amor eterno. H reencarnou numa foca no Ártico enquanto D, anos mais tarde, reencarnou num gnu em África. Depois H reencarnou num Panda na Ásia e D reencarnava num esturjão, algures no mar Ártico. O reencontro pareceu impossível durante gerações: H foi um crisântemo, um gladíolo, um rinoceronte com asma, uma avestruz com artrose, um golfinho com caspa, enquanto D foi uma galinha da Índia, uma vaca sagrada, um pinheiro bravo, e um jumento com gonorreia.
Um belo dia reencarnaram num homem e numa mulher. E reencontraram-se. Tinham ambos 20 anos. Voltaram a apaixonar-se perdidamente. Casaram. H tornou-se funcionário público e desatou a beber que nem um alce em época de cio. D trabalhava num escritório de contabilidade. Nunca tiveram filhos. H está preso por violência doméstica. D está com o braço esquerdo paralisado para o resto da vida. É lixada a reencarnação...
terça-feira, dezembro 06, 2005
A Razão do Crucifixo
A grandeza de um líder é determinada pela amplitude dos seus gestos políticos, económicos e sociais. É a velha história da árvore e da floresta. O liderzeco preocupa-se com as pequenas coisas e portanto a amplitude dos seus gestos é bastante reduzida. O liderzão está preocupado com a floresta e os seus gestos revelam-no: são largos, extensos, focados no futuro mas sem danificar o presente.
Pois bem, aqui na nossa telenovela mexicana Sócrates tem-se revelado bastante distante daqueles nossos líderes passados que, com a mania das grandezas, pensavam em grande. Pensar em grande é bom, porque nos torna também a nós grandes. Não encontramos esse inconformismo da pequeneza em Sócrates, muito pelo contrário: o aparelho do Estado consome mais de metade dos recursos do país? Então aumente-se os impostos para que a outra menos de metade pague a inoperância pegajosa das instituíções estatais. O país precisa de atraír investimento estrangeiro? Então taxe-se absurdamente as várias actividades económicas deste país para sacar o máximo possível a quem poderia dinamizar a economia. O país precisa de investir? Então invista-se em aeroportos desnecessários, para encapotar o investimento que Stanley Ho vai emprestar ao Estado português.
Tudo medidas pequeninas. À medida dos homens que nela pensam, e do homem que as aprova. A última medida pequenina foi a da proibição dos crucifixos nos estabelecimentos de ensino – uma muy distinta medida governamental que surgiu como resultado da pressão de um não menos distinto grupelho de laicos cidadãos nacionais. Eu até sou ateu e tanto se me dá que as escolas tenham crucifixos ou objectos de culto satânico. O que me chateia é legislar sobre esta matéria. Perder tempo com isto. Ceder a pressõzecas de uma cambada de labregos laicos que se sentem discriminados nas suas (livres) opções religiosas. O país está a ficar mais pequeno, e os portugueses cada vez têm menos culpa de terem eleito uma vara de liderzecos.
segunda-feira, dezembro 05, 2005
A Razão Dogmática
O responsável máximo pelo maior antro ancestral de paneleiragem decidiu mais uma vez repudiar os homossexuais, desta feita os que se dedicam ao sacerdócio. Esta medida de inspiração orwelliana, digna do «Animal Farm», estipula que aos olhos de Deus «somos todos iguais mas há alguns menos iguais que outros», e revela mais uma vez a hipocrisia, o mamutismo, e prepotência bacoca que a Santa Igreja insiste em exibir de geração em geração.
Quererá sua Santidade atirar-nos areia para os olhos? Terá sua Eminência noção das baixas clericais que tal repúdio causará? Pensará o Sumo Pontífice que ao repudiar os homossexuais toda a gente vai pensar que afinal as festas nocturnas com somalis criteriosamente untadinhos eram apenas homilias dedicadas a países desfavorecidos? Não sabemos. Só sabemos que a partir de hoje um pequeno trejeito mais amaricado, um menear de anca mais pronunciado, um gritinho histérico mais estridente serão considerados pela Santa Igreja como sintomas de forte homossexualidade, e portanto, repudiados (com a tradicional penalização de afinal não ter direito a entrada livre no Reino dos Céus). Falava há dias da ditadura económica de Sócrates, pois bem, temos aqui a nova Inquisição – as bruxas dos Século XXI acabaram de ser criadas: quem porventura tiver a oportunidade de observar um indivíduo a fazer coisas inexplicáveis com um cabo de uma vassoura na sua própria próstata, queira alertar o Santo Ofício.
domingo, dezembro 04, 2005
A Razão do Notário
Decerto que por uma razão ou por outra já tiveram, a dada altura das vossas vidas, que entrar num notário. Se assim foi, suponho que tenham tido oportunidade de reparar que nem toda a gente pode ser funcionário de um cartório notarial. É uma profissão peculiar que exige um património genético muito particular e está sujeita a uma política de recrutamento espartana, capaz de criar inveja à Al Qaeda.
Antes de mais é preciso realçar com alguma veemência que não se estuda para ser notário – nasce-se notário, e pronto! É um pouco como os atletas de competição: os sprinters têm uma estrutura óssea e muscular diferente dos fundistas; os tenistas com serviços mais eficazes são dotados de uma altura acima da média e têm uns bracinhos mais compridos que os restantes mortais. Também os notários têm as suas características diferenciadoras: o seu cérebro, por exemplo, funciona a um ritmo mais lento (como observamos nos casos mais graves de paralisia cerebral) o que possibilita o armazenamento de dados de uma forma mais metódica.
Para terem uma ideia de como um notário percepciona a realidade à sua volta reduzam a velocidade de um DVD em cerca de 80%: t-u-d-o f-i-c-a m-u-i-t-o l-e-n-t-o e as vozes adquirem um tom grave e arrastado, sendo relativamente dificil de apreender o sentido das frases. Não se admirem portanto que os notários não percebam à primeira o que vocês lhes estão a querer dizer, principalmente vocês, os nervosinhos. E evitem falar devagar para se fazerem entender melhor porque assim é mesmo muito complicado para eles, e demora o dobro do tempo a processar.
A capacidade pulmonar de um notário é francamente mais reduzida que a de um indivíduo normal, impedindo o cérebro de funcionar mais rápido e cansando-os de sobremaneira enquanto fazem o seu rotineiro percurso secretária-balcão-arquivo. Aliás a rotina é aquilo a que um notário aspira desde os seus tempos de estagiário – com o passar do tempo eles vão construíndo carris imaginários que percorrem todo o escritório, definindo os seus percursos possíveis. Um notário sénior já tem a sua rede rodoviária definida e move-se, lenta e religiosamente, em cima dos «seus» carris.
O facto de geneticamente possuírem um metabolismo estupidamente mais lento que todos nós, causa-lhes alguns problemas na fala (falam muito lento e muito baixo, sendo por vezes necessário encostarmos a orelha à sua boca – tarefa difícil e perigosa de desempenhar se tivermos um balcão à nossa frente) e problemas vários de concentração e coordenação: é muito vulgar observarmos um notário esgazeado a olhar para o infinito (é a chamada «pausa de hibernação» que, dependendo do seu estágio profissional, pode ocorrer várias vezes ao dia); vulgar é também a dificuldade que apresentam ao teclado de um computador ou de uma máquina de escrever. Os notários mais treinados conseguem atingir velocidades de 2 a 3 segundos entre uma tecla e outra.
Espontaneidade e improviso são conceitos totalmente desconhecidos pelos notários, e confrontá-los com algo inesperado pode ser perigoso dado que estes reagem violentamente – nunca se ostente uma folha de papel que não seja branca ou azul; nunca se apresente como documento oficial um passaporte em vez de um bilhete de identidade; nunca se ouse assinar algum documento a vermelho; e acima de tudo nunca se manifeste corporalmente de uma forma agitada – isso deixa-os nervosos, e o assunto que demoraria 2 horas a resolver poderá atingir uma duração de meses.
sábado, dezembro 03, 2005
A Razão do Autarca
Sobre a OTA e o TGV falarei com mais detalhe amanhã. É uma conspiração tenebrosa que merece ser revelada com alguma solenidade.
Hoje vou dedicar-me aos autarcas e às suas razões. O político de autarquia está para o político nacional como a fisga está para a catapulta: ambos arremessam projécteis, mas uns fazem mais merda que outros. É tudo uma questão de dimensão.
Fazer merda em grande escala é uma característica de perfil que auspicia um futuro glorioso na liderança dos destinos da nação – um autarca típico não tem a capacidade intelectual nem financeira para dar cabo da economia do país com uma OTA ou com um TGV. O autarca local é, como a própria designação implica, um gajo que faz merda a um nível muito restrito. Tanto autarcas como políticos gastam o dinheiro dos contribuíntes em aleivosias disparatadas. Mas no caso dos autarcas são aleivosiazinhas, disparatezinhos, pequenos insuflares de egozinhos. É o Portugal dos Pequeninos da política. É a cabotinice provinciana que, quando atinge limites para além do normal, culmina na fuga para o Posto 6 de Copacabana, ou na participação em reality shows de qualidade sempre duvidosa. Mas na maior parte dos casos os autarcas ficam-se pelas rotundas e pelos semáforos. Autarca que não tenha construído umas belas rotundas e plantado uns belos semáforos não pode ser digno dessa função. É uma espécie de mijinha do cão para a posteridade, para um dia puderem dizer aos netos: «Estás a ver ali aquele semáforo? Foi o avô que o pôs lá!» E a criancinha olha esgazeada para o semáforo a tentar imaginar como é que aquela fraca figura teve força de levar aquilo em ombros para ali.
sexta-feira, dezembro 02, 2005
A Razão da Greve
A coisa mais útil que se pode fazer num país que não produz a ponta de um chavelho é uma greve. As greves são libertadoras, são relaxantes, e acima de tudo são produtivas. Produzem belos dias de lazer, na praia, na cidade ou no campo, sem fazer absolutamente nenhum.
És funcionário público e achas mal trabalhares as mesmas horas que um empregado privado? Faz uma greve. És motorista da Carris e chateia-te fazer 40 horas de trabalho por semana? Faz uma greve. És professor e babas-te que nem um camelo? Faz uma greve no dia dos exames nacionais para lixares a vida a uma série de miúdos que inocentemente acharam que lhes ias ensinar alguma coisa de produtivo. És polícia e aborrecem-te os arrastões? Faz duas greves. És bombeiro e enerva-te haver falta de água para os fogos? Faz uma greve. És um magistrado e estás escandalizado porque já não podes ter 3 meses de férias judiciais? Faz uma greve. Mas antes de fazeres uma greve certifica-te se tens condições para fazer uma boa greve:
A boa greve faz-se de Verão. Não tem jeito nenhum fazer greves à chuva e ao frio. As disputas ideológicas ficam mais quentes no Verão.
A boa greve faz-se à segunda ou à sexta-feira (de preferência à segunda e à sexta-feira) porque assim podes gozar à brava com os babacas privados que vão de manhãzinha trabalhar para pagarem o prejuízo de tu não trabalhares porque estás em greve.
A boa greve faz-se com catering. Uma greve sem catering não é uma greve, é um grupo de javardos que acredita que vai conseguir alguma coisa do patronato só porque ficam todos juntos de pé e aos berros.
quinta-feira, dezembro 01, 2005
A Razão do Labrego
País de longa tradição no desenvolvimento do labrego nacional, Portugal chegou a um ponto de saturação do número de labregos per capita. Dados recentes do INE apontam para que a população labrega seja neste momento muito superior à portuguesa. «Começamos a ter dificuldade em separar os portugueses dos labregos, uma vez que os primeiros parecem ter sido perfeitamente aculturados pelos segundos» afirma o responsável máximo por esta instituíção.
O Governo já admitiu ser maioritariamente constituído por labregos de 2ªgeração, não prevendo que a situação se altere nos próximos 4 anos, o que coloca Portugal no primeiro país europeu a ter uma maioria de população labrega, governada por labregos.
O impacto do nacional labreguismo já começou a sentir-se na economia nacional – é característica do labrego a completa ausência de noção de gestão, o despesismo descontrolado e tendencioso, uma compulsiva tendência de prometer uma coisa, fazendo exactamente o contrário, e a fuga a toda e qualquer espécie de imposto.
Especialistas internacionais no fenómeno expansionista do labrego, afirmam que o processo é irreversível e que dentro de poucos anos Portugal não terá portugueses. Sugerem ainda que se comece a mudar nome do país para Labregal.
O número de escolas para labregos tem aumentado exponencialmente nos últimos 10 anos, com todos os inconvenientes que estas acarretam: taxas de insucesso escolar perto dos 100%, não pagamento de propinas, e uma tendência compulsiva de arrastões diários num raio de 2km em torno de cada escola.
O número de empresas labregas também aumentado, mas aqui a situação é menos grave porque, como se sabe, a duração de vida de uma empresa labrega é de um ano, exactamente o tempo que levam a esgotar-se os fundos europeus de incentivo à criação de empresas.
Estima-se um novo fluxo de emigração nacional com características muito diferentes das que assistimos na década de 60 do século XX: a mão-de-obra especializada e sem paciência para os labregos nacionais começa calmamente a abandonar o país.
Os labregos andam tão preocupados (fizeram contas e descobriram que os que ficam são todos uns labregos tesos) que lançaram esta semana o programa social “Adopte um Português”. Quem quiser ficar e ser adoptado por um labrego basta inscrever-se no centro de segurança social da sua zona de residência.
Cantem comigo o novo hino nacional: «Labregos do mar…»
Nota: Quem acha que eu estou a reinar que faça uma visita aqui
Publicado a 21 de Junho de 2005
quarta-feira, novembro 30, 2005
A Razão da Aliança
O George Lucas lançou recentemente o último episódio da 2ªtrilogia da série de três trilogias que tinha inicialmente pensado, mas que decidiu a meio caminho transformar em apenas duas por falta de verba e pachorra. Confuso han?
Falo obviamente do Star Wars. Eu sou um fã da primeira trilogia e acho que a paneleirice dos efeitos especiais de última geração que tomaram conta da segunda trilogia, tornaram o produto final mais pobre. Ainda assim divirto-me com os seis episódios. Não haja dúvida que aquilo é mesmo ficção ciêntífica, mas não pelo facto de retratar o futuro e envolver naves espaciais, galáxias distantes, e seres esquisitos à porrada com andróides. Aquilo é ficção porque supostamente retrata uma aliança humana que, sabemos hoje, seria impossível de obter.
Imaginem que o exército revoltoso da Aliança era formado pelos 25 países da união europeia, e conseguem ter uma perspectiva daquilo que provavelmente aconteceria.
Os franceses recusar-se-iam a combater pela Aliança até que esta adoptasse o francês como língua oficial. Os ingleses formariam um grupinho à parte e nunca se perceberia se faziam parte da Aliança ou não. Os alemães fariam campos de extermínio de droids e siths e ficariam assim entretidos. Os holandeses evitariam andar à porrada e praticariam uma política de tolerância com as forças Imperiais, procurando retirar dividendos daquilo a que chamariam uma «parceria comercial sem fins políticos». Os espanhóis atiravam-se de peito feito a todas as naves imperiais e extinguir-se-iam logo de seguida. Os italianos criariam uma unidade especial de combate (os carabinieri rabetini) especializada em atacar o Império pela rectaguarda, mas só depois de terem recebido as "luvas" de combate. Os dinamarqueses andariam felizes como a merda a conduzir as suas naves todos nús, promovendo alegres orgias inter-estelares. Os gregos criariam a «Ala dos Namorados», uma força gay de intervenção, distinguindo-se por usar sabres de queijo feta com uma mestria capaz de engordurar qualquer soldado do Império. Os belgas especializar-se-iam em desbastar as crianças Sith. Os polacos, lituanos, checos e todas as nações do leste europeu, combateriam valentemente a qualquer preço, desde que não os mandassem embora da Aliança. Os portugueses, esses rapazes do Quinto Império, nunca teriam qualquer intervenção no conflito. A bordo da sua única nave, um chasso comprado a prestações e em segunda mão pelo ministério da defesa, chegariam sempre tarde a qualquer batalha interestelar, conquistando a alcunha de «o cú da Aliança». Pequeninos e ruídosos, sempre em autocomiseração, percorreriam galáxias em direcção a lado nenhum. O costume…
May the force be with you.
Publicado a 6 de Setembro de 2005
terça-feira, novembro 29, 2005
A Razão do Feng Shui
Depois de ter sido verdadeiramente massacrado por um amigo arquitecto, que insistiu que eu me devia imbuír do espírito de Feng Shui para criar energias positivas numa vida que não me andava a correr lá muito bem, decidi fazer algumas alterações na minha casa, seguindo rigorosamente os seus ensinamentos:
segunda-feira, novembro 28, 2005
A Razão do Professor
domingo, novembro 27, 2005
A Razão do Medo
Uma pesquisa recente mostrou que o maior medo de uma pessoa normal é ter de fazer um discurso público. Isto superou até o medo da morte, que apareceu em terceiro lugar na lista. Portanto o que isto significa é que num qualquer funeral a maior parte das pessoas preferiria estar no lugar do morto do que fazer a elegia fúnebre.
A partir de amanhã e durante os próximos sete dias, integrado nas comemorações do primeiro ano de existência da Razão tem sempre Cliente, será publicado o best off da Razão: uma escolha perfeitamente tendenciosa, subjectiva e pessoal, dos posts que me deram mais gozo a escrever.
sábado, novembro 26, 2005
A Razão Ignorante
sexta-feira, novembro 25, 2005
A Razão do Adeus
De vez em quando reparo na influência que a religião tem na nossa língua e nas coisas mais básicas que ela expressa. «Adeus», aquela palavra que usamos vulgarmente para nos despedirmos uns dos outros, é um desses exemplos.
Quando um povo católico se despede a coisa fica carregada daquela inexorabilidade bacoca do reencontro – convém perceber que quando se manda alguém «a Deus» está-se inconscientemente a dizer «vai desta para melhor, meu querido». É que num país católico só vai a Deus quem deixa de existir num plano terreno, ou tratando os bois pelos nomes: quem morre! Podemos sempre acreditar que o sentido não é este, que na pior das hipóteses «adeus» significa «vai ali à casa de Deus». Mas seria rídiculo termos de passar pela igreja mais próxima sempre que nos despedíssemos de alguém. Para além de poder ser perigoso, por corrermos o risco de nunca mais de lá saírmos (a não ser que se evitássemos despedidas dentro das igrejas)
Franceses, Portugueses e Espanhóis (e seus derivados coloniais) usam alegremente esta espécie de maldição sempre que os seus caminhos se bifurcam. Mais valia assumirem a coisa de uma forma consciente e dizerem «vai morrer longe!».
Mas nem todos os povos têm este mau feitio dos católicos. Até os italianos, católicos convictos, se aperceberam do significado do termo e criaram o «Ciao». Também não acho que o «Ciao» seja uma palavra que dignifique a separação, até porque os italianos a usam arbitrariamente, seja para significar «Olá» seja para significar «Adeus» - que é a mesma coisa que dizer que «estares aqui ou estares ali, para mim é a mesma coisa» o que não é uma coisa educada para se dizer a outra pessoa, principalmente se gostarmos dela.
Os ingleses têm uma maneira mais civilizada de se despedirem. Se analisarmos o sentido de «goodbye» veremos que este significa algo do tipo «boa passagem» (que em português correcto seria «passa bem»). É infinitamente melhor do que mandar alguém «desta para melhor» (outra expressão nacional que significa exactamente o contrário daquilo que descreve). «Goodbye» encerra um desejo altruísta - com uma pitada de egocentrismo - de que o outro esteja bem mesmo quando não está perto de nós.
São os alemães que têm a maneira mais simples de despedida. Sem floreados e merdices desnecessárias: «Auf Wiedersehen» significa «até à vista» não tem segundos significados – vou deixar de te ver e portanto até um dia destes em que nos veremos novamente. Sempre é mais agradável do que «Adeus», com tudo o que isso implica.
Pessoalmente gosto da maneira japonesa da despedida, na zona de Tóquio: «Mata ai Masho». Não faço ideia do que significa, mas que soa bem soa.
E agora, se me permitem, vão todos morrer longe. E desenganem-se se acham que este é um post de despedida.
quinta-feira, novembro 24, 2005
A Razão Feudal
Para mim não existe apenas uma forma de ditadura. Temos a ditadura política que cala e elimina toda a forma de oposição. E depois temos a ditadura económica, ainda mais perigosa porque surge sob uma falsa capa de democracia, e que paulatinamente vai sugando os cidadãos com uma taxa aqui, uma taxa ali, um agravamento aqui, um imposto acolá, e assim sucessivamente até à inconsciência.
Só um engenheiro é incapaz de perceber que este sistema feudal vai estrangular o país no médio prazo... mas também quem disse que ele vai querer cá estar no médio prazo?
terça-feira, novembro 22, 2005
A Razão da Paciência
Ao longo da nossa vida pedem-nos para ter paciência, quase diariamente. A coisa está tão enraízada no nosso discurso do dia a dia que tenho dúvidas se somos um povo bovinamente paciente porque nos martelam com isso todos os dias, ou se nos exigem algo que temos ancestralmente nos nossos lusos genes.
Cá para mim os espanhóis andam, há algumas gerações, a atirar drunfes para os caudais dos rios à saída da fronteira. Estamos todos pachorrentamente dopados e cheios de paciência à conta de doses diárias de soporíferos e ansiolíticos diluídos nas águas castelhanas (fora aqueles que tomamos voluntariamente todos os dias em terras lusitanas). Haja paciência, evitem a água: bebam vinho.
domingo, novembro 20, 2005
A Razão Própria
Somos mais persuadidos pelas razões que descobrimos por nós próprios do que pelas razões que nos são dadas por outros.
Por estas e por outras é que eu já desisti de vos convencer. Acreditem se quiserem.
sábado, novembro 19, 2005
sexta-feira, novembro 18, 2005
A Razão do Mictório
A casa de banho é um dos locais mais importantes no dia a dia de uma pessoa. Sendo assim, porque raio é que os arquitectos não prestam mais atenção quando definem o espaço, e os elementos que lá são colocados?
Quem desenha os mictórios? Tenho a certeza absoluta que é uma mulher com recalcamentos: gostava de atingir o grau máximo da emancipação e fazer desenhos na parede (leia-se mijar de pé).
Todos sabemos qual é a função do mictório, albergar o líquido e não deixar que nada saia cá para fora. A forma como estes objectos são desenhados está longe de ser a ideal, porque quando tiramos a mangueira cá para fora e fazemos mira para os buraquinhos – o objectivo destes é de escoamento – começam a saltar pingas por todo o lado; se tentamos acertar nas paredes o resultado é o mesmo e as formas curvas, que tem como função evitar que haja ressalto do líquido, são feitas de forma a provocar o efeito contrário ao desejado.
Dizem que se deve lavar as mãos quando se vai à casa de banho, cá para mim devia haver uma muda de roupa e um chuveiro, pelo menos para os homens.
Se vamos para os urinóis de design ainda é pior. Quem é que no seu perfeito juízo faz urinóis planos?! É como mijar para a parede mas é bem pior. Quando mijamos para a parede podemos escolher a parede, a distância e evitamos mijar para os pés. Este tipo de receptáculo é feito de propósito para acertarmos nos pés. A distância à parede é mínima e o resguardo para os sapatos também. Resultado, se não acertamos nos pés é nas pernas.
Este tipo é encontrado nos bares e discotecas e por vezes tem uma cortina de água a correr constantemente o que não abona em nada para a poupança do líquido precioso.
As divisórias dos mictórios não são bem planeadas. Todos já tivemos a sensação de ter alguém ao nosso lado a lançar um olhar métrico sobre o nosso material. As divisórias deviam ser mais altas, não custava nada. Isto faz-me duvidar da orientação sexual dos arquitectos… A dimensão das divisórias é insuficiente. É desconfortável ter que “mudar a água às azeitonas” ombro com ombro com um desconhecido.
E como se isto não bastasse, estamos ameaçados de outra forma, mas só agora é que tomamos consciência disso: a gripe das aves! Estamos tranquilamente a “tirar a água do joelho” e, em pânico, vemos um pato, já na fase terminal da doença (apresenta-se nas cores azul e nos casos mais graves verde), a poucos centímetros do nosso joystick. Contrair a doença por esse canal não deve ser nada agradável.
Um post de Miguel de Terceleiros em exclusivo para a Razão.
terça-feira, novembro 15, 2005
A Razão do Ressabiado
O que faz com que Saramago seja um labrego ressabiado? Qualquer indivíduo com coluna vertebral teria tomado a atitude que ele tomou assumindo-a com frontalidade. Quem leu isto sabe que coluna vertebral é algo que escasseia em Saramago e portanto de vez em quando temos de levar com as aleivosias deste estreptococo. A última delas foi o lançamento do seu último livro, pelo que sei uma obra de humor (como se um estreptococo invertebrado soubesse provocar o riso). Saramago decidiu fazer o lançamento do seu último livro no Brasil. Até aqui tudo bem. Vender para um mercado de 259 milhões de potenciais leitores é substancialmente diferente do que vender para um miserável mercado de 10 milhões. O que me chateia profundamente é que esta bosta fez questão de dizer que lhe dava muito prazer de lançar o seu último estertor no Brasil só porque não o fazia em Portugal. Pessoalmente até agradeço que Saramago publique os seus livros na República do Butão, no Uzbequistão, ou inclusivé na Somália. Até agradecia que os seus lançamentos fossem feitos o mais longe possível do meu miserável país. O que não tenho é pachorra para aturar é o seu ressabiamento crónico. Se isto fosse um país de gente séria Saramago nunca mais venderia um único livro à conta desta sua última diarreia ressabiada. Mas como vivemos em Portugal, qualquer cagalhão nobelizado atinge calmamente a 2ªedição.
segunda-feira, novembro 14, 2005
A Razão da Categoria
Há um problema de categoria neste país. Veja-se a dificuldade que temos em encaixar o país numa categoria: somos um país em vias de desenvolvimento ou somos um país desenvolvido? Tenho dúvidas. Se estamos em vias de desenvolvimento elas devem estar muito obstruídas porque isto não anda. Se somos um país desenvolvido alguém se esqueceu de nos avisar.
Convivo muito mal com esta falta de categoria.
A Razão das Sete Medidas
Depois de alguns anos de reflexão política e de alguns meses a observar a esquizofrenia da governação de Sócrates, cheguei à conclusão que o programa de governo perfeito para Portugal conteria apenas sete medidas simples, que partilharei convosco:
1. Eliminar a Inveja
Há nesta telenovela mexicana um superavit de Inveja que se cristalizou ao ponto de já fazer parte da nossa cultura nacional. A Inveja destrutiva dos portugueses para com os portugueses impede que as coisas aconteçam, destrói a iniciativa privada e nivela por baixo qualquer hipótese de evolução. Quem tiver Inveja fica encarregado de pagar os impostos. Os que não a tiverem ficam isentos.
2. Erradicar a Preguiça
Há muito relaxado por aí sem vontade de trabalhar. Há muito labrego a fingir que trabalha. Quem estiver com Preguiça pode ir fazer a siesta para o país vizinho. Fica autorizado a voltar daqui a 30 anos. O país agradece. O problema do desemprego ficará praticamente resolvido com esta medida.
3. Taxar a Vaidade
É um paradoxo viver num país que se encontra em crise profunda e verificar que o número de inscrições em ginásios, spa's, e clínicas estéticas não pára de aumentar; que o número de automóveis per capita colocam Portugal no 5º lugar do ranking mundial de posse de automóvel. Se querem ser vaidosos paguem um IVA de 200% sobre essas paneleirices. E andem mais vezes de transportes públicos.
4º Banir a Gula
Fala-se muito em obesidade infantil e criam-se medidas histéricas para a debelar, mas o problema da Gula não está nas crianças. Está nos seus pais e nos seus avós, que ficaram demasiado gulosos depois dos anos dourados dos fundos comunitários europeus. Pois bem queridos, essa mama acabou mas a vossa Gula parece não ter limite. Crie-se uma dieta especial para gulosos que consiste no recebimento compulsivo do ordenado mínimo nacional por um período de 10 anos.
5º Punir a Avareza
Esta medida teria aplicação exclusiva no Governo e nos organismos do Estado. Sempre que se implementasse mais uma «medida governamental de contenção» esta teria um efeito vitalício sobre os membros do governos, funcionários públicos e suas famílias, por 3 gerações vindouras.
6. Desincentivar a Luxúria
Nunca os produtos de luxo se venderam tanto em Portugal como nos dias de hoje. Só podem estar a gozar connosco.A medida a aplicar aqui seria linear: por cada produto de luxo adquirido, o seu comprador depositaria um valor idêntico na Segurança Social. Os reformados deixariam de passar fome neste país.
7. Proíbir a Ira
Manifestações como aquela que nunca aconteceu na Costa da Caparica, manifestações iradas dos beliscados funcionários públicos, e outras demonstrações quejandas de Ira teriam um tratamento simples: era tudo requisitado para campos de reabilitação da agricultura nacional, que anda pelas ruas da amargura à conta dos anteriores pecados.
Este seria um programa simples de governo para acabar com os pecados que se estão a tornar mortais para o país. E nem precisava de grande coragem política para os implementar, que é coisa que escasseia muito por aí...
domingo, novembro 13, 2005
sábado, novembro 12, 2005
A Razão do Bridge
sexta-feira, novembro 11, 2005
A Razão da Tara Perdida
Os filósofos chamam-lhes de cortes epistemológicos. A maltosa do dia a dia é mais despudorada, ou eufemística se quiserem, e intitulam-no de «a puta da realidade».
A verdade é que há alturas em que as coisas não voltam a ser o que eram. A tara perdida é uma delas. A partir do momento que uma alma iluminada decidiu criar a tara perdida, Portugal nunca mais voltou a ser o mesmo. Até aquele momento tínhamos a nossa tara: podia até ser uma tara inconsequente, pequenina, insignificante, rídicula. Mas era a nossa tara. A tara que fez com que um pastor andasse à calhauzada com romanos nos Montes Hermínios; a tara que fez com que um gajo mandasse um par de lambadas na mãe e desatasse a fundar que nem um desalmado; a tara que fez com que meia dúzia de gajos numa casquinha se fizesse ao mar para dar novos mundos ao mundo; a tara que fez com que um puto maluco comprometesse à grande os destinos da nação; a mesma tara que fez com que uma gaja arreasse à grande e à portuguesa com uma pá num grupelho de labregos castelhanos; a tara que fez com que a língua portuguesa fosse muito maior que o território nacional; e que um grupo de chavalos capitães decidisse tomar o país de G3 carregadas de cravos vermelhos.
Depois da introdução da tara perdida não voltámos a ser os mesmos. Perdemos a tusa, dizem uns. Perdemos a noção dizem outros. Perdemos aquela dose de loucura que sempre fez com que nós, desde sempre um pequeno país no ponto mais ocidental da Europa, achássemos que éramos muito (mas muito mesmo) maiores que os nossos mais selvagens sonhos.
Hoje, com a tara perdida algures por aí e sem esperanças de alguma vez a reencontrarmos, somos a exacta imagem do nosso Primeiro Ministro: um gajo de voz esganiçada e de atitudes titubeantes, que mente todos dias ao país e a si próprio, sem tara nem objectivos.
Alguém procure a tara s.f.f.
quinta-feira, novembro 10, 2005
A Razão Cocoon
O que é que se pode esperar de uma época cujas atitudes de revolta foram perpetuadas pela terceira idade?
Pouco, mas a verdade é que os idosos de hoje já não são como antigamente e o país está como está porque está porque os novos velhos não têm tino.
Antigamente, nos bons velhos tempos, quando atingiam uma determinada idade fechavam-se em casa ou nos lares e tinham a delicadeza de fingir que se tinham finado antes do tempo. Era uma espécie de estágio.
Hoje, não. Estão uns autênticos alucinados e andam aí na rua como se não houvesse amanhã. E para muitos provavelmente não haverá.
Antes, no tempo em que respeitavam os mais novos, quando os encontrávamos na farmácia era porque estavam a comprar a pomada para o hemorroidal. Não andavam por aí nos posters publicitários a promover descaradamente uma vida sexual capaz de fazer inveja a uma marta com cio.
Antes, quando os víamos no banco era porque tinham ido depositar mais umas economias para o futuro dos filhos e netos, e não porque tinham decidido recorrer a créditos especias para viagens de luxo, vestidos com camisolas «I went to Polynesia and all I bought you was this lousy T-shirt».
Antes, quando tinham alguma decência, se os víamos acompanhados de miúdas de 18 anos era porque tinham ido esperar a neta à Faculdade.
Antes, quando apareciam na televisão era porque tinham chegado aos 100 anos e a família queria aparecer no telejornal. Não era de forma alguma para se candidatarem a presidentes da República Portuguesa.
Francamente! Já não há respeito.
quarta-feira, novembro 09, 2005
A Razão dos Eufemismos
Irrita-me profundamente a mania que agora toda a gente tem de abusar dos eufemismos.
Senão vejamos: Um gago, já não é aquele gajo que... que... que... demora imenso tempo a falar: é um individuo com desordens a nível da fluência.
Um estúpido é uma pessoa com dificuldades ao nível da aprendizagem e um grande estúpido, uma com dificuldades ainda mais acrescidas.
Já ninguém é bêbado neste país, mas sim alguém que sofre de problemas comportamentais ao nível da bebida.
Esse mesmo labrego alcoolizado também não dá todos os dias um enxerto de porrada na mulher. Ela é que é mais uma das vítimas de violência doméstica.
Isto, aparentemente divertido, tem levado a uma crescente desculpabilização semântica dos criminosos, dos ladrões, dos corruptos, dos violadores e até da actuação do Governo (que consegue albergar inúmeros exemplares de cada um destes grupos).
Neste país, ninguém rouba – desvia. Ninguém aldraba – defrauda expectativas. Ninguém aumenta impostos – toma medidas de incremento. E ninguém está mais uma vez a ir ao «eufemismo mais profundo» dos portugueses – está é a pedir um esforço de contenção e abnegação aos contribuintes. Por isso, não percebo porque é que noutras formas de insulto mais prosaicas ainda não substituímos o «Vai à merda» pelo: «Por favor dirija-se ao excedente alimentar mais próximo»”. Ou o vulgar «eu quero que tu te lixes e vás dar banho ao cão», por um «eu gostaria imenso que você aparasse as suas arestas antes de banhar o canídeo».
Da mesma forma que deveríamos deixar de dizer «Que grande corno que tu me saíste» e passar a exclamar «Você, sua vítima de adultério assumida e reincidente» ou até mesmo substituir o famoso « Tu és um grande filho da p...» por «A excelentíssima senhora sua mãe é a maior mulher de negócios que eu, o meu pai, o meu tio e o grupo de forcados amadores de Coruche já alguma vez conheceu».
Só assim, poderemos dizer que somos um verdadeiro país de eufemistas, que é como quem diz: uma cambada de paneleiros.
terça-feira, novembro 08, 2005
A Razão Alucinógena
Estou a escrever este post num hotel em Amsterdam. Vou-me coibir de vos explicar as razões que me fazem estar neste momento em Amsterdam, e ainda por cima a escrever um post. Imaginem o que vos apetecer.
Há pouco fui à janela do meu quarto no 4º piso e pus-me a ver a vista. Nada de especial a vista. A não ser pelo facto de lá embaixo, ao lado de um parque de estacionamento de bicicletas, estar uma cabra branca a pastar num canteiro. Ora eu vim directo do aeroporto para o hotel e portanto qualquer hipótese de estar perante o efeito secundário de substâncias alucinógenas deve ser terminantemente posta de lado. A cabra é real. E branca. E pasta.
Daqui por uma hora talvez veja um dragão de Komodo a alçar a perna para fazer a sua mijinha territorial na esquina do hotel. Daqui por duas horas talvez me depare com uma anémona descorada a coçar a micose no bar do hotel, tentando encetar uma conversa de engate com uma alforreca escorbútica com problemas de bebida. Talvez até seja confrontado, daqui por três horas, com anões coloridos e besuntados em manteiga a tentar trilhar o mamilo nas dobradiças da porta do hotel, ao mesmo tempo que cantam «Adio adieu» do grande Cid. Talvez veja isso tudo e mais um par de botas. Mas enquanto o space cake que pedi ao room service não chega, vejo uma cabra branca a pastar no passeio.
segunda-feira, novembro 07, 2005
A Razão Descrente
domingo, novembro 06, 2005
A Razão Reveladora
sábado, novembro 05, 2005
A Razão Alienada
sexta-feira, novembro 04, 2005
A Razão da Rescisão
«Eu até já me apetecia ir-lhe aos fagotes» confidenciava um labrego a fazer tempo numa empresa para receber o seu, «então agora vou ter mesmo que fazer o gosto ao dedo».
Desde o início desta semana que se tem observado uma inscrição massiva de adeptos nas academias de artes-marciais. As modalidades mais procuradas têm sido o manejo do varapau dos pauliteiros de Miranda e o brandir selvático da Moca de Rio Maior, se bem que outras modalidades orientais como o Jiu Jitsu, o Taekwondo e o Shotokan tenham também observado uma adesão assinalável.
Face a estes recentes desenvolvimentos, o Governo está a equacionar a legalização de armas de fogo para tornar a medida mais eficaz, estando esta medida dependente do relatório, em curso, sobre o volume das pensões de viuvez e o seu agravamento na dívida pública.
quinta-feira, novembro 03, 2005
A Razão do Cheiro a Queimado
É curioso ver como os povos culturalmente próximos dos nossos amigos castelhanos mantêm alguns tiques ancestrais dos seus fundadores. Pessoalmente considero o acto um bocadinho boçal. Não percebo a aversão que os argentinos têm às caixas de reclamações/sugestões.
No entanto este incidente leva-me a pensar no que aconteceria se Portugal tivesse sido conquistado pelos espanhóis. Haveria muita coisa a que atear fogo por aí…
Descontentes com a morosidade e a tendenciosidade da Justiça em Portugal os portugueses queimariam todos os tribunais. Depois, insatisfeitos por estarem a endividarem-se para descontar para um chorrilho de labregos da Função Pública, incendiariam repartições de finanças, notários, escolas e universidades, esquadras de polícia, quartéis dos vários ramos das forças armadas, e ministérios vários.
Desagradados com as despesistas e desviantes políticas autárquicas, incendiariam câmaras municipais, transformando os seus funcionários em verdadeiras tochas humanas. Finalmente, porque não gostariam decerto que o seu primeiro ministro lhes mentisse constantemente, fariam um derradeiro auto de fé na Assembleia da República (não sem antes terem passado por Belém, chateados com os dois pesos e duas medidas do seu Presidente) e queimariam todo o executivo em estacas improvisadas para o efeito. Os jornalistas da TVI a cobrir o evento teriam o mesmo quente destino. As unidades de queimados dos hospitais públicos não teriam mãos a medir: iriam certamente faltar fitas métricas para tanta mão.
Quando acabassem de queimar os motivos do seu descontentamento, os portugueses iriam perceber que todo o país tinha ardido. Felizmente que não deixámos os espanhóis cá entrar. Felizmente que somos um povo civilizado. Assim só queimamos mesmo os nossos parcos e últimos recursos naturais.
quarta-feira, novembro 02, 2005
A Razão de Adelina
Adelina não era supersticiosa e portanto recusava-se a acreditar que o saco tinha atraído aquela desgraça toda. Mas o facto é que a sua situação piorava de dia para dia. Até que um dia, cansada daquilo tudo, Adelina pegou nas economias que tinha amealhado ao longo dos anos e tomou a decisão da sua vida. Foi para o Brasil. E levou com ela o saco azul.
Hoje Adelina tem uma vidinha mais ou menos. Arrebitou as mamocas com silicone. Fez um botoxzinho. Arranjou um penteado novo com madeixas loiras e consulta frequentemente um sobrançólogo, que lhe dá importantes dicas sobre como tratar as sobrancelhas. Desde que casou com um reformado endinheirado passa a vida no Posto 6 de Copacabana, a trabalhar o bronze. O saco azul continua consigo. E ela continua a acreditar que ele não teve culpa nenhuma.