Fazem-me confusão aquelas marcas de cosmética que testam os seus produtos em animais.
Acho um bocadinho retorcido e desviante testar-se baton fucsia em vacas charolesas, esfoliante em borregos neozelandeses e creme de noite em salmões de dorso dourado.
Alguém devia dar umas noções de marketing a esta gente e explicar-lhes, por exemplo, que um morcego fêmea africano nunca usará Channel nº5, por muito que lhe apeteça sair à noite.
quarta-feira, junho 20, 2007
A Razão dos Testes em Animais
terça-feira, junho 19, 2007
A Razão de Ir a Despacho
Como bem sabemos, o Estado tomou conta deste país há tempo demais. E como tal o país ficou com tiques de Estado: trabalha-se pouco, protesta-se muito, sai-se cedo e, la piéce de resistance, vai-se a despacho. Tudo vai a despacho neste país. Ir a despacho é uma condição de se ser português, heróis do mar, e raio que parta os canhões, marchar marchar sempre em frente, tipo flautista de Hamelin em direcção a um penhasco qualquer.
A verdade é que isto é o país do despacho, até porque o despacho (ou ir a despacho – expressão deveras deliciosa) é a maneira mais segura de nada acontecer. E, de facto, nada acontece.
O acto de ir a despacho é encerrado em si mesmo: quando algo vai a despacho podemos ter a certeza que se iniciou um processo de pasteurização ao contrário – em vez de retirar os micróbios indesejáveis, ir a despacho é acrescentar mais germes, mais micróbios e mais formas de vida esquisitas que têm todas uma coisa em comum: recebem sempre o subsídio de desemprego ao fim de mês. Mesmo que sejam mal empregados para trabalhar.
E o país, ou aquilo que chamam a este lugar, vai a despacho. Mas tudo de um modo pouco despachado, como convém.
É uma pena que não se despache todo o Governo mais a função pública que se arrasta, penosamente, como uma tripa excedente agarrada às paredes rectais do Estado. Isto nem uma tribo somali despacha.
domingo, junho 17, 2007
A Razão do Insulto
Poucas coisas são gratificantemente libertadoras como um bom insulto aplicado no momento certo. Tem o efeito de uma ventania forte num dia nublado: deixa-nos o céu azul e solarengo. Limpa-nos a alma.
Não falo do insulto fácil, que não requer grande esforço dada a sua aplicação despersonalizada a qualquer pessoa ou situação. O insulto fácil é uma coisinha processada que sabe à mesma coisa em qualquer parte do mundo: um McDonalds da retórica. Agora um insulto personalizado e meticulosa ou inspiradamente aplicado é uma forma visceral de arte. Perpetuável no tempo, sem outra aplicação que não seja a original, que o viu nascer. Deixo aqui alguns exemplos:
A população é eminentemente portuguesa, quer dizer que ela é lenta, pobre, indolente, apática e preguiçosa.
Mark Twain, sobre os Açores.
O homem é tão inseguro de si mesmo que usa o cabelo como um idiota filho da puta, de modo a que as pessoas o possam reconhecer.
Rich Giachetti, sobre Don King.
Malditos sejam os danados porcos de ossos gelatinosos, os viscosos, os invertebrados inchados e insinuantes, os miseráveis sodomitas fétidos, os ardentes pederastas, os chorões, babando-se, perturbando-se, paralíticos, o bando fraco que fez a Inglaterra de hoje. Eles têm clara de ovos nas veias e a sua langonha é tão aguada que é um milagre que se possam reproduzir. Porquê, porquê, porque nasci eu em Inglaterra?
D.H. Lawrence, sobre o seu país natal.
Bambi com testosterona.
Owen Gleiberman, sobre Prince.
O encanto do homem é letal. Durante um momento está a nadar ao nosso lado e zás! Há sangue na água. A nossa cabeça foi-se.
John Barry, sobre Rupert Murdoch
Os americanos são uma raça de convictos e devem estar agradecidos por tudo aquilo que os deixamos fazer sem os enforcar.
Samuel Johnson
terça-feira, junho 12, 2007
A Razão da Opinião Política
Um leitor chamou-me conscenciosamente à atenção de não ter piadinha nenhuma nas minhas opiniões políticas. Esta observação fez-me pensar nas minhas opiniões e no que elas têm de político, ou seja: em nada. A verdade é que me recuso a pensar politicamente sobre o que quer que seja. Até porque acho, sinceramente, que pensar politicamente sobre o que quer que seja é a mesma coisa que sujar qualquer linha de raciocínio. E eu gosto das coisas limpinhas. Não é que seja um maníaco da limpeza: não tenho qualquer fobia que me impila (palavra interessante numa perspectiva puramente feminina) a dizer aquilo que acho de uma forma cor de rosa, alaranjada, vermelha ou azulo-amarelada. Aliás acho que, se existem cores, o melhor é que as usemos com a pluralidade que elas merecem: nunca irei negar que um dia destes vi o ministro dos negócios estrangeiros a usar uma sunga vermelha numa praia menor do litoral alentejano.
O que realmente me preocupa é o facto dos portugueses insistirem em compartimentar as opiniões alheias em gavetas inexplicáveis. Para mim as coisas não são monocromáticas. Nem bicromáticas. Para mim quem faz greve, para atrasar «conscenciosamente» a economia do seu país, é um perfeito retardado. E quem maquilha as opiniões bacocas da sua central sindical também é um retardado. E não me venham cá com merdas paternalistas acerca da minha parca formação intelectual, porque por mais parca que ela seja, e por mais «divertidissimo» que seja este blog, um grevista será para mim sempre um labrego, independemente da cor da minha (e já agora, da sua) opinião política.
Nota: E sem saber ler nem escrever este blog ultrapassou (pela esquerda e com os pisca-piscas da praxe) as duzentas mil visitas. Se pensarmos que cada visitante tem, em média, 1,60m de altura (descontando os anões, os cavalos e as mulheres desnudas) isto equivale a uma fila pilinha de 320.000 km. O mesmo que ir de Lisboa a Pequim 32 vezes. Nada que impressione um funcionário público num guichet de uma qualquer repartição deste país.
quarta-feira, junho 06, 2007
A Razão dos Rapa Nui
A CGTP fez hoje um balanço positivo da greve geral de quarta-feira, considerando que “teve um forte impacto na redução da actividade económica e nos serviços públicos” e dizendo que contou com a participação de mais de 1,4 milhões de trabalhadores.
Uma entidade que se orgulha de promover uma «forte redução da actividade económica» só pode estar a gozar com cada um dos 10 milhões de cidadãos nacionais que insistem continuar a viver em Portugal.
Portugal e os seus sindicatos fazem-me lembrar os Rapa Nui, uma tribo polinésia que habitava a Ilha da Páscoa. Depois de anos e anos a desgraçarem a sua própria ilha, exterminando todos os seus recursos naturais para construirem um sem número de estátuas ridículas que não serviam para nada (uma espécie de Otas lá do sítio), os Rapa Nui acabaram por se extinguir a si próprios numa luta estupidificante pelo poder sobre um território que não interessava nem ao menino Jesus. Hoje em dia os Rapa Nui são lembrados como uma tribo de imbecis suicidas risíveis. Um belo exemplo para a nossa nação.
terça-feira, junho 05, 2007
A Razão do Enviado Especial
O que torna um enviado especial, especial? Não é uma questão de resposta fácil se pensarem um bocadinho. Já repararam que a existência de um enviado especial tem automaticamente implícita a existência de outro enviado que não é especial? A verdade é que alguma coisa ou pessoa só é especial porque existe um número muito maior de outras coisas ou pessoas que não o são, que são banais.
E aqui é que a conversa se começa a tornar interessante: já alguma vez viram um enviado banal? Já viram alguma cadeia de televisão transmitir em directo a reportagem de um enviado banal, algures num palco de guerra qualquer, ou num apartamento algarvio de férias de um casal britânico disfuncional? Claro que não. Aparentemente os enviados banais não têm grande jeito para falar para as câmaras nem para dar nas vistas. Ao contrário dos enviados especiais, que falam pelos cotovelos, com um auricular no ouvido e uma calma olímpica num campo de batalha sobrevoado por mísseis intercontinentais que ocasionalmente alteram, com estrondo, o recorte da linha do horizonte.
Uma coisa que também tenho reparado é que os enviados especiais têm compreensão lenta, e que esta é directamente proporcional à distância que eles se encontram do seu país de origem. É verdade. Já repararam que quando um repórter do estúdio fala com um enviado especial no outro lado do mundo este leva algum tempo a assimilar a pergunta antes de responder? Há quem se desculpe com os satélites, mas a verdade é que o enviado especial é um bronco que tem de processar a pergunta várias vezes antes de conseguir responder.
Isto está certamente relacionado com o facto que torna o enviado especial, especial. Tudo começa na entrevista de recrutamento dos enviados: aqueles que levam mais tempo a responder às perguntas do entrevistador são normalmente recrutados. São gajos, por assim dizer, especiais…