terça-feira, maio 31, 2005

A Razão Presidencial

presidencial

Defendo firmemente que o Presidente da República deve ter uma função reguladora sobre a acção do Governo, para evitar excessos e absurdos políticos. Por isso não me chateei por aí além com o facto deste ter despedido o desgoverno dos santanetes. Achei prepotente e tendencioso, mas os gajos andavam a pedi-las. A coisa era um verdadeiro desastre.
Pelas mesmas razões acho que o Presidente deveria neste momento voltar a intervir, despedindo os socráticos. Se um tipo ganha as eleições porque no seu programa de governo estão descritos alguns pressupostos, e ao fim de dois meses decide fazer exactamente o contrário do que prometeu, é porque é um javardolas mentiroso, e merece ir de charola rapidamente. E onde está agora o Presidente? Não devia ele agir em defesa do seu povo? Ou vai continuar tendencioso, embora pouco prepotente neste caso? Esta pergunta é mera retórica. Eu conheço a bem resposta. Por isso mesmo é que defendo firmemente que o Presidente, para além de ter uma acção reguladora, deveria ser visitado vitaliciamente por uma tribo de somalis. Devidamente untadinhos, pois claro.

segunda-feira, maio 30, 2005

A Razão do Divórcio

divorcio

Se quando casamos juramos «até que a morte nos separe» e depois nos divorciamos, significará isto que metade da população portuguesa está morta? Será que isto resolve o problema da segurança social? É que não faz sentido nenhum descontar para um defunto...

sexta-feira, maio 27, 2005

Razões Lusas

lusas
O puto era maluco e tinha a mania das grandezas. A culpa não era dele: deram-lhe um reino para brincar aos 3 anos e meio, estavam mesmo a pedir o que viria a acontecer. Não é que eu duvide que um tipo com 3 anos e meio tenha capacidade para liderar um país – o Sócrates tem a idade mental de dois anos e está à frente do Governo (a culpa não é dele, ninguém tem culpa de ser eleito por um bando de papalvos). Mas estou a desviar-me do que interessa:
O puto era maluco e tinha a mania das grandezas. Mandava na telenovela mexicana desde tenra idade e nutria uma obsessão invulgar pelo Norte de África (tinha sido por ali que em tempos idos tinham chegado os somalis que o sodomizaram repetidamente aquando do seu 13º aniversário). Nunca se percebeu se o gajo tinha gostado ou não. Aquela obsessão não deixava transparecer se era um desejo de vingança, se era saudade daqueles efebos viris. Mas também nunca ninguém perdeu muito tempo a pensar nisso.
A obsessão foi crescendo com a idade e, aos 20 anos decide fazer a sua primeira expedição ao Norte de África tendo desembarcado, com meia dúzia de combatentes em Ceuta encarando a invasão numa perspectiva de desporto radical. Os árabes retiraram-se rapidamente pensando que aquele meia dúzia de malucos não se aventurariam assim, se não tivessem as costas quentes. Sem ninguém para andar à porrada o puto maluco dirigiu-se para Tânger, onde também ali os árabes pensaram que se tratava de um primeiro grupo de um extenso exército invasor, bazando de seguida.
O puto maluco chateou-se com aquilo tudo, queria andar à porrada e não havia ninguém em quem bater. Então decidiu voltar à telenovela mexicana, e recrutar um exército maior para andar à porrada em Alcácer Quibir.
4 anos e 18.000 homens depois ali estava ele, novamente em Tânger, de peito feito para dar cabo daquela merda toda. A 4 de Agosto, em Alcácer Quibir, o puto maluco e o grupo de 18.000 babacas que o seguia foi exemplarmente dizimado em apenas um dia, inspirando dois mitos nacionais: o «Sebastianismo», que consiste em não fazer absolutamente nada e esperar que as coisas se resolvam per si, surgidas no meio do nevoeiro; e a «Morte na Praia» cujos exemplos mais recentes podemos encontrar nas finais do Euro 2004 e na Taça Uefa 2005.
Haja nevoeiro, porque pelo menos assim não se vê o que aí vem à frente (nem atrás).

quinta-feira, maio 26, 2005

A Razão dos Treinadores de Bancada

treinadores

Em Portugal há uma mania de mandar uns bitates inconsequentes sobre tudo e mais alguma, mesmo que não se perceba um chavelho do que se está a dizer. É o chamado Treino de Bancada.
Os treinadores de bancada estão normalmente associados ao fenómeno futebolístico, mas esse é o seu nível mais básico. Encontramos treinadores de bancada em todas as áreas: no desporto, nos negócios, nas nossas vidas pessoais, e ultimamente até no Governo eles aparecem a dar os seus bitates de especialistas em inconsequência javarda.
O que me está a deixar preocupado é que, depois do meu post de ontem, comecei a ver os empresários portugueses armados em treinadores de bancada da actuação do Governo quanto a esta questão do défice. Todos acham que, por serem empresários, têm competência para mandar os bitates que lhes apetecer para ensinarem aos rapazes do Executivo (nome enganoso que sugere algum tipo de acção, que nunca chega a acontecer) como se gere o país. Mas mais grave que isso é que estas alimárias gestoras andam a dizer que o melhor mesmo é aumentar os impostos. Querem lá ver que os nabos são mais do que eu pensava? Eu se fosse ao governo fazia uma inspecção económica às empresas desses treinadores de bancada – vai-se a ver e têm défices muito maiores que o do Estado. A julgar pela qualidade dos bitates estamos totalmente entregues à bicharada. Emigrar, meus amigos, é sempre uma opção.

quarta-feira, maio 25, 2005

A Razão do Défice

defice

Aí está ele outra vez como assunto do dia. Tão recorrente que já chateia. Sabemos que o período de graça de um governo em Portugal termina quando se puxa o assunto do défice.
O défice só é um assunto recorrente desta telenovela mexicana porque o Estado, essa abstracção incómoda, não tem a mínima ideia do que é gerir, nem sequer uma casa de meninas.
A resposta automática de qualquer energúmeno governamental, independentemente da sua côr política, para a solução do défice é invariavelmente a mesma: aumente-se os impostos! Esta postura só demonstra o nível intelectual e a preparação técnica das alimárias que insistimos em colocar no poder.
Imaginem que aqueles rapazes que agora se dizem Governo eram a equipa de gestão de uma empresa chamada Portugal. Imaginem que essa empresa apresentava um prejuízo de 7% no final do ano. Para que o boneco seja mais fácil de entender imaginem que essa empresa chamada Portugal produzia um único bem: nabos. O negócio dos nabos não ia nada bem e o prejuízo era certinho se não se fizesse nada. Qual era a solução para acabar com o prejuízo? Segundo a equipa de gestão o problema resolvia-se aumentando o preço dos nabos. Inteligente não? Fazer os consumidores pagarem pela ineficiência daquela empresa de nabos.
Não era mais lógico olharem para dentro da empresa e cortarem custos fixos? Seria o que qualquer gestor mediano faria. Reduzia pessoal, optimizava o processo de produção eliminando desperdícios. Ou seja, arrumava a sua própria casa e não ia tentar sacar o que pudesse ao consumidor só para tapar um buraco, fruto da sua incapacidade de gestão.
Enquanto não tivermos uns nabos capazes, vamos continuar a ouvir falar deste défice, e mais: vamos pagar para que um conjunto de babacas continue a enterrar o país. Assim a modos que impunemente. Voltei a ter assunto.

segunda-feira, maio 23, 2005

A Razão da Falta de Assunto

faltadeassunto
Tenho pouco jeito para a chamada conversa mole, e uma verdadeira admiração por aquelas pessoas que conseguem manter uma conversa sem dizer absolutamente nada de relevante ou de interessante. Só para encher chouriços. Isto lembra-me que costumo ser bastante telegráfico ao telefone, digo o essencial, não por estar preocupado com o tarifário (se bem que há por aí cada tarifário…) mas porque não considero o telefone um instrumento social. O telefone é algo que uso com uma perspectiva perfeitamente funcional com o objectivo de dizer algo de muito concreto, e rapidamente. A conversa, essa é para se ter olhos nos olhos. Não consigo conversar decentemente com alguém que não consigo olhar direitinho nos olhos. O que me leva aquela malta que tem imensa dificuldade em fitar os olhos do seu interlocutor: pode ser uma manifestação de timidez, mas não deixa de enervar ver aqueles olhos a passear por todo o lado só para evitarem os meus. E os que falam sem olhar nos olhos e a rabiscar uma folha de papel parecendo que o raciocínio se desenvolve à proporção da quantidade de tinta que vai jorrando para o papel. Esses ainda me chateiam mais, porque me distraem, porque mesmo não querendo a minha atenção se vai centrando nos rabiscos que eles vão fazendo e o seu discurso começa a desaparecer em fade out na minha cabeça, ao ponto de ficar tudo em silêncio, só com o ruído do rabisco.
Tudo isto para dizer que ando com falta de assunto, e que este post já está atestadinho de conversa mole.

quinta-feira, maio 19, 2005

As Razões da Depressão Nacional

depressaonacional
Somos o país que mais anti-depressivos consome per capita. Temos um dos piores índices de analfabetismo da Europa. Temos um dos índices de produtividade mais baixo da Europa. Temos um dos índices mais altos de corrupção do Mundo. Tivemos 3 governos diferentes em dois anos. Temos um défice estupidamente alto. Temos uma taxa rídicula de crescimento económico. A nossa taxa de desemprego continua a aumentar de mês para mês. Temos uma das taxas mais baixas da Europa na frequência e conclusão de cursos universitários. Temos os gestores mais improdutivos da Europa. Temos o escândalo da Casa Pia. Temos o escândalo do Apito Dourado. Temos o escândalo de Felgueiras. Temos o escândalo do Nobre Guedes. Temos um número assustador de falências empresariais. Somos o 23º país dos 25 da União Europeia. Temos o índice de obesidade infantil mais alto da Europa. Perdemos em casa a final do Europeu de Futebol para os gregos. Perdemos a final do Mundial de Futebol de Praia no Brasil para os franceses. Perdemos em casa a final da UEFA para os russos. O nosso sector primário é inexistente. O nosso sector secundário é pouco concorrencial. O nosso sector terciário é ineficiente. A nossa média de salários está muito abaixo da média europeia. Os nossos impostos estão muito acima da média europeia.
Até uma lontra ficaria deprimida com isto.

quarta-feira, maio 18, 2005

A Razão da Vaidade

vaidade
Quando Narciso morreu, o seu lago de prazer passou de uma taça de águas doces para um cálice de lágrimas salgadas, e as Ninfas dos Montes lamentaram-se, enquanto atravessavam os bosques, no seu dever de cantar ao lago e reconfortá-lo.
E quando elas viram que o lago tinha mudado de uma taça de águas doces para um cálice de lágrimas salgadas, soltaram as tranças verdes dos seus cabelos e choraram para o lago, dizendo-lhe: «Não estamos admiradas que mergulhes dessa maneira no luto por Narciso, tão belo ele era.»
«Mas o Narciso era belo?», perguntou o lago.
«Quem o poderá saber melhor do que tu?», responderam as Ninfas. «Por nós passou sempre ele, mas foi por ti que procurou e se deitou nas tuas margens, e olhou para ti. E foi no espelho das tuas águas que reflectiu a sua própria beleza».
E o lago respondeu: «Mas eu amei Narciso porque enquanto ele se alongava sobre as minhas margens e olhava para mim, em baixo, no espelho dos seus olhos, eu vi sempre a minha beleza reflectida.»
Oscar Wilde

terça-feira, maio 17, 2005

A Razão do Trabalho Menor

trabalhomenor
Há uns tempos tive um colega moçambicano a estagiar durante algumas semanas comigo. Era um tipo novo, e era a primeira vez que tinha viajado para fora de Moçambique. No seu último dia de estágio confessou-me uma coisa deliciosa: a coisa que o impressionou mais em Portugal, logo à chegada, foi ver brancos a fazer “trabalhos menores”, como descarregar o lixo, varrer as ruas,, ou simplesmente servir à mesa. No seu país estes são trabalhos em que os brancos não tocam, é impensável ver um branco servir à mesa num restaurante de Maputo. Existem certos trabalhos que só servem para a comunidade negra. Mais tarde tive a oportunidade de constatar isto em Maputo e de me lembrar que, em Portugal, um dos países mais pobres da Europa, gostamos de nos armar ao fino e de preferir engrossar a lista de desempregados a fazer trabalhos considerados, vá-se lá saber porquê, menores.
Gostaria que alguém me explicasse porque raio é que um tipo que retira o lixo diariamente do nosso caixote de lixo, ou seja, um tipo que limpa a nossa merda, é um “trabalhador menor”? – conheço muitos administradores de empresas que não só não limpam merda nenhuma, como ainda fazem mais merda, e são considerados quadros superiores (?). Tão finos que nós somos…

Nota: Ainda no que respeita aos técnicos de recolha de lixo, já repararam que estes agora são todos loiros, de olho azul, e licenciados em “trabalhos maiores”?

segunda-feira, maio 16, 2005

A Razão da Eurovisão

eurovisao

O Festival da Eurovisão é prova cabal que Portugal é um país de masoquistas persistentes a raiar a estupidez. Não há história neste Festival de um país que tenha sido tão mal pontuado em tantas edições e que ainda assim insista em aparecer. Os organizadores do Festival da Eurovisão estão desesperados: já tentaram tudo para desmotivar a participação portuguesa e a malta continua a aparecer – tipo aqueles convidados que tornam qualquer festa numa verdadeira chatice, mas que já aparecem há tanto tempo que ninguém tem coragem de lhes fechar a porta na cara. Ao longo dos anos Portugal tem vindo, com poucas excepções, a ser ostensivamente relegado para os últimos lugares – qualquer país teria percebido que aquilo devia querer dizer alguma coisa, que não valia a pena insistir, que os senhores não nos queriam lá. Mas não. Os portugueses ainda não perceberam e, ao fim de mais de 40 anos de participações falhadas e constrangedoras, teimam a aparecer com as suas roupinhas atestadas de lantejoulas, a quererem parecer muito moderninhos.
Se considerarmos o Festival da Eurovisão como um veículo difusor da imagem de Portugal na Europa, então está explicado porque é que o número de turistas tem baixado assustadoramente de ano para ano.

sexta-feira, maio 13, 2005

A Razão da Instalação

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Este início de um novo milénio está a ser marcado por uma verdadeira crise de criatividade e imaginação. O resultado está à vista: a televisão torna-se um periscópio para a vida privada de uma série de gente; a publicidade anda pelas ruas da amargura, tão morninha e sem sal; o marketing das empresas deixou de ter qualquer estratégia que não seja a de dar descontos a torto e a direito; o mercado empresarial não arranja soluções para ganhar competitividade; as quarentonas encalhadas desataram a escrever livros sobre a vida sentimental das trintonas em vias de encalhanço (que vendem que nem paposecos); mas onde a coisa me enerva de sobremaneira é no domínio da arte.
A arte, que vive dessa capacidade humana de se autorecriar e autodesafiar, está uma verdadeira bosta intercontinental. Isto porque toda a gente acha que é capaz de produzir arte: um bocadinho à semelhança das quarentonas encalhadas que acham que sabem escrever livros só porque há milhares de atrasados mentais que são capazes de ler tudo o que se lhes põe à frente.
É neste contexto que surge um fenomenozinho de moda, chamado “a instalação”. A instalação artística está para a exposição de arte, como a bifana atascada em óleo está para os lombinhos de foie gras regados com Porto. Para fazer uma instalação é necessária uma sala mais ou menos ampla, de preferência num sítio de reputação cultural irreprimível, e um monte de tralha que é atirada ao acaso para o espaço que existe disponível: atire-se, por exemplo, um monte de bambus para um canto da sala, polvilhe-se com açucar mascavado e dê-se o título abstracto de “a infringibilidade secular” e pronto: tem-se uma instalação. Faça-se o mesmo com o resto de feijoada que ficou no fundo da panela de pressão da avó, chama-se de “gerontes esquecidos” et voilá, outra instalação. E depois é ver o artista (eu chamo-os de instaladores) de peito feito e a achar que aquela merda vale grande coisa; é ver a malta a pagar para ver aqueles estreptococos sublimados e a achar que foi enganada à grande e à francesa, mas a disfarçar para não parecer que não têm estatura cultural para entender uma coisa daquelas.
Uma vez que a instalação está ao alcance de todos, numa espécie de javardoso “do it yourself” artístico-bacoco, lembrei-me de fazer uma instalação diferente. Uma instalação viva, onde em vez de objectos e pedaços de porcaria, usaria pessoas à séria. Pensei em chamá-la de “Somalia Retumbante”: consistiria num grupo alargado desses instaladores clarividentes, nus e dispostos ao longo de uma sala, debruçados sobre vários tipos de mesas (para dar uma certa diversificação à coisa). Cada um dos instaladores seria paulatinamente sodomizado por uma tribo que efebos somalis devidamente untadinhos, que se revezariam obedientemente de hora a hora. A instalação concluiria todos os dias com os instaladores a serem transportados de cadeira de rodas para fora do recinto, agarrados a uma algália. Começo a achar que tenho jeito para isto…é preocupante...

quinta-feira, maio 12, 2005

Razões Bonificadas

bonificadas

Uma vez que gostamos de importar “boas práticas” do estrangeiro porque parecem sempre ser mais finas, só espero que ninguém no Ministério de Educação se lembre de aplicar isto:
No Reino Unido decidiram criar regras de compensação para os exames de acesso à Universidade, no sentido de favorecer os alunos que tenham sofrido alguma experiência traumática no dia do exame. Se um familiar do aluno tiver falecido no dia do exame, este terá uma bonificação até 5% na nota final (varia de acordo com o grau de proximidade familiar – um pai vale definitivamente mais que um tio, por exemplo). Se morrer a mascote (um hamster, por exemplo) tem 2% de bonificação. Se o aluno assistir a evento traumático tem 3% de bonificação. Se o aluno partir uma perna ou sofrer um ataque de asma tem 3% de bonificação. Uma alergia ao polén vale 2% de bonificação, e uma vulgar dôr de cabeça vale 1%.
Estou a imaginar o que a criatividade de um aluno tuga faria com este tipo de regras: Joãozinho começava a manhã antes do exame a dizimar toda a sua família (5% para o pai, 5% para a mãe, 5% para o irmão e 3% para a avózinha), estrangulava energicamente o caniche lá de casa (mais 2%). Implodia o seu prédio e assistia aquilo tudo a desmoronar-se com 20 famílias lá dentro (mais 3%). Rachava a cabeça com um tijolo (mais 3%), ficava com uma imensa enxaqueca à conta disso (mais 1%).
Depois ia fazer o exame com uma bonificação de 27% garantindo assim sua entrada na universidade. Em famílias numerosas a taxa de admissão na universidade tenderia a ser maior…

quarta-feira, maio 11, 2005

Razões Cabotinas

cabotinas
O Estado português (essa abstracção incómoda) tem o triste hábito de implementar as medidas europeias primeiro que toda a gente, num provinciano exercício de mostrar que é tão ou mais europeu que os outros. Até parece que se formos os primeiros a implementar as coisas de uma forma leonina acabamos por ser considerados um país desenvolvido, por osmose. Na boa tradição de cabotinismo, nem perdemos um minuto a pensar se a aplicação das medidas europeias é válida no nosso contexto ou não. E como não pensamos nisso, nem sequer nos passa pela cabeça constestá-las em sede própria, na altura e no local onde estas são decididas. A atitude parece ser “os senhores lá na Europa é que sabem, e se eles decidiram assim é porque é para fazer assim”.
Depois admiram-se que a imagem dos portugueses teime em associar-se à da mulher a dias ou da porteira… “Ò dona Maria, hoje vá dar uma limpeza em profundidade nos tapetes da sala – xim xenhor!”

terça-feira, maio 10, 2005

A Razão das Obras

construtorcivil

O construtor civil e toda a turba que o precede (pedreiros, pintores, canalizadores e electricistas) são o paradigma da nossa nacionalidade. Não há classe de gente que represente tão bem os portugueses como esta turminha bacoca. Ouvi de um belga uma vez que “só se percebe a essência do povo português depois de se ler Eça e de se fazer obras em casa”. Só lhe posso dar razão, apesar de os belgas também não serem flores que se cheirem...
Uma obra em Portugal é sempre a mesma coisa: é obra. No início é só facilidades e orçamentos baratos, no meio é só facilidades e orçamentos acrescidos, e no fim (se é que podemos usar esta palavra) é sempre um “do mal o menos” e um custo proibitivo.
O que determina o final de uma obra em Portugal não é, curiosamente, a conclusão do último acabamento. Não. Normalmente uma obra é dada como acabada quando se acaba o dinheiro ou a paciência de quem a paga. E portanto, tal como o próprio país, tudo fica inacabado e atabalhoadamente concluído. Uma espécie de Santana Lopismo vigente que contamina todo este sector.
O construtor civil e a sua turminha só percebem uma linguagem: desenvolveram desde cedo um sentimento masoquista que só lhes permite funcionar quando levam pontapés na boca. Tratá-los com profissionalismo é contribuir para que a obra dure 4 vezes mais tempo. Aplicando uns pontapés na boca aqui e ali a obra consegue concluir-se no dobro do tempo.
Sabendo disto, quando decidi fazer obras em casa, segui os conselhos de um amigo alemão e defini com o meu construtor civil um contrato penalizador. Ele definia um prazo para a obra e por cada dia que ele se atrasasse pagar-me-ia uma determinada quantia. Medida Santa: já vou no terceiro construtor, o dinheiro das penalizações já deu para fazer uma piscina que não estava inicialmente prevista, e pelos vistos vou passar umas férias à borla no Brasil à conta do gajo que está lá agora. Recomendo-vos. O Brasil, não as obras.

segunda-feira, maio 09, 2005

A Razão do Estado

estado
O Estado é uma abstracção incómoda. Quando falamos dos problemas estruturais do país, e de outros, acabamos sempre por chegar à conclusão de que a culpa é do “Estado”. Mas o que é isso o Estado? Se perguntarmos a um político ele vai dizer-nos que o Estado somos todos nós. Todos nós? Mas querem tornar-me parte desse compadrio de incompetentes? Eu não sou Estado coisíssima nenhuma! E vamos lá desmistificar a coisa de uma vez por todas: se o Estado é o organismo regulador da sociedade, então não é nada mais do que o conjunto de indivíduos que compõem o Governo, e dos funcionários públicos das instituíçoes que executam aquilo que lhes mandam. Esses gajos é que são o Estado: um conjunto de gajos que tenta encher a mula em 4 anos, e uma turba de gajos cujo princípio de vida é saltar de letra em letra fazendo o menos possível no maior espaço tempo possível (nunca tiveram a sensação de que tudo se passa em câmara lenta dentro de uma repartição pública? Nunca vos apeteceu fazer fast forward? Eu já, mas receei que eles se magoassem nos cantos das secretárias).
O Estado é portanto composto por estas duas forças antagónicas: uns bandalhos que querem mamar tudo rapidamente antes que se acabe o mandato; e uns mongos com um conceito de rapidez que ombreia com a lesma, o caracol, e a tartaruga alaúde. Conclusão: andamos sempre em Estado de Sítio à conta destes javardolas.

sexta-feira, maio 06, 2005

A Razão do Jet 6

jet6
Todos os países têm o seu jet set. O jet set é uma espécie de nova nobreza. O povo gosta de os ver, gosta de saber das suas vidas pseudo-glamorosas, de saber o que vestem, onde vão, com quem vão, etc. Nessa Europa fora o jet set é entendido como criador de tendências e de modas. Em Portugal também. Com uma pequena nuance: são jet 6. Isso coloca-os em desvantagem quando comparados com os seus colegas europeus. Mas não interessa nada desde que vendam revistas e lhes paguem para andar em festas.
Portugal é um país pobrezinho e portanto tem o jet set que merece: feios, porcos e estúpidos, parecendo saídos de um filme de Felini. Para se pertencer ao jet set nacional não são precisas grandes habilitações: o ensino primário é suficiente. Convém no entanto aparecer na televisão nacional, o que é escrupulosamente cumprido pelos jet seises tugas. Mas para além disso convém ser fotografado em festas que não interessam a ninguém a fazer pendant com alguém endinheirado.
O segredo do sucesso de um jet 6 nacional é uma receita muito básica: quem consiga grangear fama a desbastar tribos inteiras de somalis ultrapassa a fase do estágio; depois abocanha-se um falo famoso num programa televisivo (ou num Jaguar qualquer), estica-se a fronha com botox, atesta-se o lábio superior com silicone, fala-se nisso tudo numa revista côr-de-rosa e já está: é-se do jet 6.
Ter um QI acima da média é prejudicial – é bem dizerem-se umas alarvidades sem sentido para que o povo se consiga identificar com eles. Mas acima de tudo o que um membro do jet 6 tem que ter é uma imensa vontade de dizer, sempre com a boquinha em “U”, coisas inteligentes do tipo “estar vivo é o contrário de estar morto” (frase emblemática dessa rainha bacoca do jet 6, Lili Caneças).

quinta-feira, maio 05, 2005

A Razão do Queixume

queixa
Na maior parte dos países que conheço o acto de reclamar é algo assertivo. Nesses países as pessoas reclamam e é suposto acontecer alguma coisa. Existem até gabinetes especializados na recepção e gestão das reclamações. Ali, a reclamação é entendida como a denúncia de alguma coisa que não está bem com o intuito de a corrigir. O próprio acto de fazer a reclamação tem uma designação formal, chama-se “apresentar uma queixa” ou “apresentar uma reclamação”.
Em Portugal a reclamação não existe. Os portugueses têm, no entanto, um sucedâneo pobre da reclamação, vulgarmente designado por queixume.
O queixume é uma queixa para a qual não se exige nenhuma solução. É a queixa inconsequente e sem solução à vista. E portanto o objectivo do queixume é podermo-nos queixar e reclamar conformadamente sabendo de antemão que nada irá resultar desse acto. A reclamação está para a dor de cabeça tal como o queixume está para a moínha irritante que não tem intensidade suficiente para nos levar a tomar um comprimido, mas que ainda assim nos vai chateando.
A reclamação é feita de peito cheio, voz grossa, e murro na mesa. O queixume é feito a pedir desculpa, de forma balbuciante e com pézinhos de lã.
Sempre acreditei que o desenvolvimento de um povo é largamente influenciado pela capacidade que esse povo demonstra em autocorrigir-se, e autoaperfeiçoar aspectos que considere merecedores de correcção. A reclamação tem essa virtude de mudar o status quo de um povo. O queixume não. É uma manifestação de impotência e falta de iniciativa. É o “lusitanian way of life” amplificado por duas gerações que não estavam autorizadas a abrir a boca.

quarta-feira, maio 04, 2005

A Razão dos Gambuzinos

gambuzino
A minha primeira caçada aos gambuzinos aconteceu pelos tempos em que eu andava ainda na escola. Convidaram-me e explicaram-me. Até me ofereceram o saco conveniente e necessário.
Excitado, preparei-me em casa. Treinei devidamente, emboscado atrás da porta, a tentar caçar experimentalmente o meu pai, que subia a escada. Pareceu-me que não gostou. Os pais, não é...?
Na noite da caçada, lá fomos. Eu entusiasmado, com a lanterna e o saco apropriado. E também a moca que estava atrás da porta, que à noite há ladrões, foi a justificação que me veio à cabeça no momento. Todos concordaram.
Mas não me venham dizer que não há gambuzinos. Apanhei três. Um deles parece-me que se chamava António André e ficou coxo. Ainda está, creio. Uma fractura excelente, mesmo pela rótula.
Tudo me leva a crer que a caça aos gambuzinos é realmente importante. Temos que apanhá-los. Temos mesmo. Seja lá como for.

terça-feira, maio 03, 2005

A Razão do Stress

stress
Há 230.000 anos atrás habitou neste planeta uma espécie hominídea designada por neanderthal. Pelo nome poderia deduzir-se que era alemão, mas não (se bem que quando olho para os alemães me vem à cabeça o neanderthal), só se chama assim porque o primeiro fóssil deste espécime foi encontrado na região de Neanderthal, perto de Dusseldorf. Os Neanderthais tinham uma vida lixada: vestiam-se com peles de animais, viviam em condições precárias, não tinham canalização, as hipóteses de carreira eram diminutas (principalmente depois de terem chegado os Cromagnons) mas ainda assim os neanderthais não tinham stress. Não existem registos de um neanderthal stressado.
Viriato, um pastor dos Montes Hermínios, que ficou conhecido entre as legiões romanas como o Che Guevara lusitano, fez a vida negra ao Império Romano utilizando um tipo de combate que na altura se chamava “toca e foge” (hoje chama-se “guerrilha”) não se conhecendo quaisquer sintomas de stress. É certo que se enervava de vez em quando, mas nada que uns murros no tampo da mesa não resolvessem.
Afonso Henriques, conhecido por arrear na mãe à grande e à francesa (na bela tradição borgonhesa herdada de seu pai) também não tinha stress. Ao mínimo sintoma de ansiedade montava no seu cavalo e ia fundar. Fundar, naquele tempo, era sinónimo de andar à porrada com os mouros.
O stress é um sintoma que parece ausente da nossa história. Inexplicavelmente. Seria de supôr que embarcar numa casquinha de noz em direcção ao nada durante meses criasse stress; ou defender um império numa altura em que o total da população não excedia o milhão e meio de pessoas: os poucos gajos que ficavam a defender os postos avançados em África, na Índia ou no Brasil contra os ataques dos holandeses, dos espanhóis ou dos corsários ingleses, deveriam ter um bocadinho de stress. Mas não. Stress foi coisa de que nunca se ouviu falar. Por tudo isto é que fico surpreendido que hoje em dia se fique com stress à mínima contrariedade: perdi o autocarro – stress; não consegui apresentar o trabalho a horas – stress; tenho o telefone a tocar de minuto a minuto – stress; tenho uma turma de meninos irrequietos – stress; apetece-me fumar um cigarro no avião – stress; mas que paneleirice é esta? Está tudo com falta de problemas? Querem lá ver que tenho que me stressar?

segunda-feira, maio 02, 2005

A Razão do Efeito Pigmaleão

Labirinto

Há uns anos atrás, numa universidade dos Estados Unidos, testou-se a influência do Efeito Pigmaleão no desenvolvimento dos indivíduos. A cada um dos estudantes que participou no estudo foi dado um rato de laboratório e um labirinto. A ideia era fazer com que os ratos aprendessem a sair do labirinto.
A metade dos estudantes foi dito que o seu rato era estúpido e que teriam que ter paciência, porque provavelmente este iria levar algum tempo até aprender onde é que era a saída. A outra metade dos estudantes foi dito o contrário: estavam na posse de ratos extremamente inteligentes que muito provavelmente iriam achar num ápice a saída do labirinto. Na realidade não havia diferenças entre os ratos, eram todos estúpidos como só um rato pode ser. Mas os estudantes não o sabiam.
Curiosamente os ratos “inteligentes” descobriram rapidamente a saída e aprenderam facilmente o caminho a tomar dentro do labirinto. Os ratos “estúpidos” levaram muito mais tempo quer a descobrir, quer a aprender o caminho. A experiência foi um sucesso, estava provado o Efeito Pigmaleão.
Ora se não existiam diferenças entre os ratos porque é que os supostamente inteligentes foram de facto os mais inteligentes? Porque, segundo diz a teoria, as expectativas e a percepção que temos relativamente a determinadas coisas ou indivíduos, mudam a nossa maneira de nos relacionarmos no sentido de alinharmos a realidade com o modo como a vemos. O que aconteceu foi que os estudantes que tinham os ratos “inteligentes” falavam com eles, estimulavam-nos mais, recompensavam-no com mais frequência, e tinham muito mais paciência para os ensinar que os estudantes que ficaram com os ratos “estúpidos”: já estavam à espera que o rato fosse uma besta e portanto nem os tratavam bem, nem se esforçavam minimamente para lhes ensinar a saída.
Lembrei-me do Efeito Pigmaleão ao ler hoje uma notícia no jornal onde perguntavam aos portugueses quais as suas expectativas para os próximos 12 meses. Para além
daquelas bestas que não sabem e não respondem (9%), só 27% é que acreditam que a sua situação económica vai melhorar. A crise continua. E depois queixem-se…