quarta-feira, maio 31, 2006

A Razão da Fraqueza

fraqueza
Alturas há em que me sinto tentado a escrever sobre coisas maiores, coisas superiores, coisas que me e vos transcendem em qualquer minuto da minha e da vossa reduzida vida. Apetece-me partilhar convosco o sentido da vida, e o nosso objectivo final no meio de toda esta trapalhada; apetece-me partilhar convosco a minha visão sobre o sistema social perfeito, onde aos jovens é-lhes permitido ser jovens e aos velhos não é imposto um sistema de morte lenta e improdutiva; apetece-me falar-vos da importância da natureza e do vosso efémero mas decisivo papel nela; apetece-me falar-vos no prolongamento da vossa eternidade através da criação, seja de vida seja de actos que tornarão o mundo numa coisa melhor; apetece-me falar do quão vã é a busca por coisas que só aumentam a vossa infelicidade. Apetece-me falar disto tudo e de mais alguma coisa.
Depois o dia-a-dia toma conta do meu discurso e, numa série de momentos de fraqueza, acabo por vos falar de coisas comezinhas e divertidas desse mesmo dia-a-dia.
Um dia hei-de falar-vos dessas coisas elevadas. Mas não será hoje.

terça-feira, maio 30, 2006

A Razão Monetária

monetaria
O dinheiro fala.
Mas não tem nada de novo para dizer.

segunda-feira, maio 29, 2006

A Razão do Motor de Busca

motor de busca
Se há coisinha que diariamente acho fascinante é a quantidade de mamíferos que vem parar a este blog por mero acaso enquanto andam à procura das coisas mais aberrantes no motor de busca do Google. Mas mais fascinante que isso são os temas que estes mamíferos procuram na internet. Tiro o meu chapéu ao Google que, pelas minhas contas, está calmamente a construir a base de dados mais completa de todos os estúpidos, tarados e javardos do planeta. Graças ao Google será possível, daqui a uns anos, circunscrever estes palermas todos num local determinado e empandeirar-lhes uma tribo somali que lhes tirará quaisquer dúvidas que possam ter sobre a retractabilidade de um esfíncter.
Enquanto isso não acontece, vou partilhar convosco alguns exemplos do que tem sido procurado neste blog nas últimas 24 horas:

«Orgasmo» - um dos temas mais procurados desde que escrevi a Razão do Orgasmo. Aparentemente, os mamíferos que cá chegam à procura de orgasmo, têm uma secreta esperança de o encontrar por aqui. Deixem-me esclarecer-vos: não só não o vão ter por aqui, como duvido veementemente que, se o têm que o procurar na internet, alguma vez o venham a experienciar fora dela.

«Números de Telefone de Prostitutas da Madeira» - não será mais fácil consultar as páginas amarelas? Porque diabo terei eu no meu blog uma lista de telefones do putedo madeirense? E depois começo a pensar no gajo que fez esta busca: casado, chefe de família, gordinho e careca, numa convenção de vendas na Madeira, sózinho no hotel, e cheio de amor para dar. Em vez de telefonar ao Alberto João decide optar pelas amadoras... que amador.

«Sadismo» - um tema procurado por um brasileiro. Haverá alguma coisa mais sádica do que viver num país governado por Lula da Silva? Tenho dúvidas. E aparentemente o tipo que fez esta busca também.

«Coliseu Romano Leões» - Outro brasileiro à procura de um tema interessante. Reparem que há aqui um padrão brasileiro que implica indirectamente algum sofrimento humano. É por estas e por outras que a imagem que tenho do povo brasileiro se tem modificado lentamente à medida que vou escrevendo neste blog. E eu que os via como um povo alegre e despreocupado...

«Associar para memorizar nomes» - Mais uma vez um brasileiro. Desta feita um brasileiro com problemas de memória à procura de uma solução mnemónica que lhe resolva a sua incapacidade para se lembrar de nomes. Lamento informar-te, leitor desmemoriado, que não há solução para isso. Digo-te por experiência própria. Eu esqueço-me de um nome no momento em que estão a verbalizar a sua segunda sílaba. Sempre foi assim. E não me preocupo nada com isso.

«Bares de Alterne de Lisboa» - uma busca de um rapaz de Santarém que provavelmente está a preparar a sua visita à capital. Aparentemente ninguém explicou a este gajo que não precisa de gastar dinheiro para engatar alguém em Lisboa.

«Conversas Interessantes Sobre Mulheres» - uma busca curiosa feita por alguém de Lisboa. Pergunto-me o que será uma «conversa interessante sobre mulheres»: será sobre os seus atributos emocionais ou sobre os seus atributos físicos? Será sobre as suas proezas profissionais ou sobre as suas proezas sexuais? Não faço ideia, mas confesso que esta foi uma busca que me intrigou, por ser tão vaga.

«Plásticas aos Papos nos Olhos» - alguém em Aveiro não está satisfeito com as olheiras que ganhou ao longo da vida. Uma boa maneira de acabar com os papos nos olhos não é cirúrgica: basta deixar de usar o motor de busca diariamente. Olhar para o ecran de computador faz papos nos olhos.

«Quarentonas» - aqui está um brasileiro à procura de emoções. Este deve ser o tema mundial mais procurado na internet depois de «Sexo». Porque será?

Um dia irão estudar os temas mais procurados pela civilização humana nos motores de busca. Gastarão imenso dinheiro e tempo. Farão análises extensas e complicadas. E produzirão um relatório que concluirá que desde o Neanderthal pouco mudou, à excepção dos dinossauros. Até lá, vou-me divertindo.

domingo, maio 28, 2006

Razões Nacionalistas (II)

nacionalistas (II)

O povo português é estranho.
Quando uma figura pública desaparece choram baba e ranho, mas ao saberem que essa pessoa não é exemplar, em vez de colocarem a mão na consciência e dizer que "era uma pessoa como as outras", preferem efectuar a "super técnica Carrilho" e dizer que tudo são calúnias sem fundamento.
Enquanto que reclamam pela falta de qualidade de vida, pela miséria e pobreza em que vivem, gastam autênticas fortunas pelos seus clubes "do coração".
Idolatram milionários que não fazem mais do que ser bons profissionais mas aparentemente ninguém dá qualquer importância aos milhares de portugueses espalhados pelo mundo que em muito contribuem para o avanço da Humanidade, ganhando provavelmente pouco mais que um ordenado dito comum.
Um "Sr. Mister" pede que tenham orgulho no país e que o demonstrem colocando a bandeira Portuguesa nas janelas e o povo cumpre de imediato, fazendo com que o mercado da contrafacção cresça significativamente. Ao mesmo tempo demonstrando que nem sequer sabem colocar a bandeira sem ser de pernas para o ar! Mas enfim, suponho que o facto pode ser interpretado como uma crítica ao estado de coisas "se o país está de pernas para o ar, porque não haverá de estar a bandeira?".
Passa a ser obrigatório possuír um colete reflector na viatura e o que é que o povo faz? Consegue colocá-lo do modo mais pindérico alguma vez visto. Mas no entanto continuam a beber bastante às refeições e fora delas porque se julgam "os maiores" lá do seu bairro. Isto para depois poderem vir dizer que quebraram os records de alcoolémia e alegar que não sabiam que por beber um aperitivo antes do almoço, 3 canecas de cerveja durante o almoço, 2 litros de vinho para degustar e tomar um conhaque pós-almoço para "lavar o estômago" os colocasse em estado de embriaguez. E dizem estas palavras enquanto se questionam acerca do porquê de terem sido parados por um enorme conjunto de polícias... todos gémeos idênticos!
Imagino o que acontecerá quando tivermos um seleccionador nacional (um Mister portanto) que, devido a uma avançada idade, por mera senilidade ou enorme sentido de humor, venha dizer que para ajudarmos a selecção não há melhor do que fazer como o Super-Homem (que melhor exemplo?) e usar a roupa interior por cima da roupa. Será que a moda pegava? Tendo em conta o que se tem visto, julgo que sim!
Oh patriotismo a quanto obrigas!


Um grande comentário de CP que foi elevado a post.
Foto de Fotoben.

Razões Nacionalistas

noçao
Eu queria aqui deixar bem claro que, lá porque critico por vezes brutalmente a nossa triste e vil nacionalidade isso não significa que a desdenhe (ao contrário de muitos tugas malaicos que andam por aí, e aos quais teria muito gosto de apresentar uma tribo somali devidamente untadinha de vocês sabem o quê).
Não senhores, eu cá gramo de sobremaneira de fazer parte de um país cuja fundação começou com um belo par de chapadas dadas por um filho de uma mãe (convenhamos que ela andava a pedi-las); orgulho-me diariamente de um gajo que prometeu pagar uns trocos ao Papa vigente para transformar este território num país, e que depois o enganou à campeão e nunca lhe deu um chavo (se os gajos que vieram a seguir lhe tivessem seguido o exemplo, a igreja não teria estragado tanta coisa por aqui); rejubilo em histeria quando este mesmo gajo desata a arrear porrada de três em pipa nos sarracenos e funda uma data de merdas, inclusivé Lisboa. Não haja cá dúvida que se havia gajo que sabia fundar era ele.
E depois orgulho-me de outros gajos e gajas que contribuiram para este projecto: a padeira que ostentava uma destreza letal com a pá; o tipo de Avis, que pôs o Andeiro a andar; os gandamalucos que se puseram a fundar além-mar em casquinhas de noz; os gajos que enganaram os castelhanos (esses grandes porcalhões javardos filhos de uma carruagem atestada de lolitas) em Tordesilhas; o tipo de um olho só que idealizou e escreveu uma nação que não estava lá, e um império que de quinto não tinha nada.
É claro que depois deste anos áureos já não me orgulho de grande coisa, mas que no início aquela malta tinha razão, oh meus amigos, lá isso tinha!


Publicado originalmente em Dezembro de 2004
Foto de Fotoben

sábado, maio 27, 2006

A Razão dos Jornais

jornais
Ler jornais para perceber o que se passa no mundo é a mesma coisa que tentar dizer que horas são só olhando para o ponteiro dos segundos.


Ben Hecht

sexta-feira, maio 26, 2006

A Razão da Verdade

donos da verdade
Façam a seguinte experiência: peçam a dois ou mais amigos que olhem para uma estátua e descubram qual o ângulo que mais apreciam quando estão a olhar para ela: de frente? Ligeiramente de lado? A três quartos? Debaixo para cima? De cima para baixo? Irão ver que as opiniões se irão dividir. Cada um apreciará um ângulo diferente da mesma estátua. Coincidentemente poderão todos achar que um determinado ângulo é o mais bonito, mas isso será a excepção que confirmará a regra.
O mesmo se passa com a verdade. Ela não é mais do que um ângulo da realidade; o vosso ângulo preferido. Mas não necessariamente o único ângulo. É por estas e por outras que não tenho paciência para os «donos da verdade». Considero-os uns parvalhões monolíticos, sem a capacidade de perceber, quanto mais apreciar, que há mais ângulos para além daquele em que insistem, bovinamente, olhar.

quinta-feira, maio 25, 2006

A Razão da Auto-Estima Nacional

auto estima nacional
É certo que o país está em crise e que a malta anda desencantada com isto tudo. Mas começo a acreditar que esta espiral de negativismo e depressão nacional é artificialmente alimentada diária e paulatinamente pelos media.
Há dois dias atrás estava a ver a SIC Notícias onde se noticiava a derrota da selecção portuguesa de Sub 21 face aos franceses. Passados 10 minutos, no mesmo bloco noticiário, voltaram a falar exactamente do mesmo. Das duas uma: ou a SIC Notícias acha que tem uma audiência de estúpidos que não assimila as notícias à primeira, ou então estão a querer fazer merda com a auto-estima nacional. Naturalmente que me inclino para a segunda hipótese (até porque não vi mais nenhuma notícia ser repetida naquele bloco).
Já sabemos que os portugueses têm uma tendência para a bipolaridade: são os maiores do mundo num minuto e as piores merdas no segundo seguinte. Isto não faz nada bem a qualquer auto-estima. Mas os sacanas dos media abusam da fruta. Só vejo e leio coisas que me agravam a fraca consideração que tenho por este país. Mas depois racionalizo as coisas e penso que nem tudo pode estar mal, seria coincidência a mais. E eu não acredito em coincidências.
Os media nacionais fazem-me lembrar a mulher insatisfeita que diariamente diz ao marido que ele não a faz feliz. Ao fim de anos a ouvir recorrentemente que é um péssimo marido o que é que ele faz? Ou arreia-lhe duas galhetas e aquela conversa acaba por ali, ou põe a senhora com dono e arranja alguém que não o massacre persistentemente.
Acho que no caso dos media nacionais a solução seria optar pelas duas alternativas em simultâneo: arrear-lhes um camaçal de porrada em direcção à fronteira. Olhos que não lêem, coração que não sente.

quarta-feira, maio 24, 2006

A Razão da Branca de Neve

branca de neve
Da série «histórias mal contadas» temos hoje, a pedido de várias famílias, a história da Branca de Neve e dos sete anões.
A primeira coisa que me ocorre quando penso na Branca de Neve é que o sacana do autor da história devia ter alguns problemas de segregacionismo não resolvidos. Porque não escolher para protagonista da história uma morena achocolatada ou uma asiática com problemas de vesícula?
Depois vem a questão dos sete anões: para além de racista, o autor era perverso. Não só imaginava aquela jovem de tez branca rodeada por sete manganões, como era tortuoso o suficiente para lhes atribuír deficiências físicas e irrecuperáveis. Estamos então entregues ao deboche e à badalhoquice inconsequente quando permitimos que gerações e gerações de pequenos seres cresçam a achar que ser anão é que é bom.
Outra questão tem a ver com o minimalismo que o autor quer imprimir às características de personalidade de cada anão: nesta história, o mesmo anão não experiencia, com toda a sua pujança, uma multiplicidade de emoções. Temos o anão que dorme e só dorme; temos o anão que está chateado e só está chateado; temos o anão que sodomiza ovelhas tresmalhadas e só sodomiza ovelhas tresmalhadas; temos o anão que gargareja vodka polaca e só gargareja vodka polaca; temos o anão besuntado em manteiga de Azeitão que ganhou este hábito porco precisamente em Azeitão; temos o anão que não se lava por baixo porque não chega lá; e finalmente, temos o anão, que à falta de outra característica qualquer, é anão. Ora isto é uma verdadeira pobreza no que toca à construção de personagens.
Por este andar, as criancinhas vão crescer a pensar que o José Sócrates é apenas um palerma e será sempre um palerma. Quando não é verdade: sabemos perfeitamente que o José Sócrates não só é um palerma, como é um palerma perigoso, que com o tempo vai evoluíndo para outras características preocupantes.
É por estas e por outras, que nutro uma desconfiança persistente no que estas histórias infantis promovem na população portuguesa. O que me faz perguntar: Se não existisse Branca de Neve existiria José Sócrates? Duvido. A mesma certeza não tenho quanto aos sete anões.

terça-feira, maio 23, 2006

A Razão da Urgência

urgente
Tudo aquilo que um qualquer idiota diz ser urgente é algo que algum imbecil não fez em tempo útil e querem que você, o otário, se desenrasque para fazer em tempo recorde.


Uma contribuição da comentadora Aloevera.

segunda-feira, maio 22, 2006

A Razão do Zero à Esquerda

zero à esquerda
Quando te considerares um zero à esquerda podes sempre filiar-te no Bloco de Esquerda. É a mesma coisa, mas sempre ficas com um cartão.

A Razão dos Zeros e Uns

zeros e uns
Quem diria que vocês todos não são mais do que uns amantes de matemática excitados. Já pensaram em vós próprios como amantes de matemática excitados? Aposto que não. Mas é o que vocês são. Senão não estariam aqui (ou noutro blog qualquer) a experienciar um sentimento qualquer. Acreditariam se há 10 anos atrás alguém vos tivesse dito que vocês um dia perderiam tempo a ler zeros e uns? Claro que não…

domingo, maio 21, 2006

A Razão de Nata

shit
Liguei a televisão e ocorreu-me: é impressão minha ou a «Revolta dos Pastéis de Nata» é na realidade a «Revolta dos Pastéis de Merda»?
Cheguei à conclusão que não tenho pachorra para o suposto pretensiosismo juvenil armado ao intelectual.

A Razão dos Sentimentos

sentimentos
Os sentimentos são como os ogres e as cebolas: apodrecem.

sábado, maio 20, 2006

Razões Hortículas

horticulas

Estou um bocadinho farto de ouvir tratar a nossa novela mexicana por “jardim à beira-mar plantado”. Na verdade isto não é mais do que uma horta mal cultivada, situada no esfíncter da Europa. Como qualquer horta, está povoada por uma variedade considerável de vegetais. O que não faltam por aí são vegetais. Comecemos pelo Chefe de Estado, um tipo ardiloso com uma cabeça em formato de nabo do Entroncamento. Passemos de seguida ao recém eleito governo, que consiste numa arroba de bróculos chefiados por uma banana, que tem como oposição um alqueire de laranjas bolorentas, dióspiros espapaçados e lentilhas ressequidas. O povo, essa amálgama de cabeças de alho chocho, sempre à espera de melhores dias, queixando-se do que tem e do que não tem, esperando que por obra e graça do Espírito Santo tudo resulte numa imensa e produtiva colheita que transforme a horta numa bela plantação.
Na horta impera o conformismo digno das sementeiras que nunca dão fruto, a imaginação do tamanho de uma ervilha, e a vitalidade de uma azeitona deixada a marinar em vinagrete. A horta já há muito que deixou de ser adubada, o que per si não constitui um problema dado que os vegetais residentes já fazem merda suficiente. As ervas daninhas proliferam viçosas, chamando um figo a cada parcela de terra que vão paulatinamente ocupando. Apenas um tipo de vegetais insiste em não singrar nesta horta, e toda a gente é peremptória em afirmar que é graças à sua ausência que as coisas chegaram onde chegaram. Falo-vos obviamente dos tomates. Já os houve, há muito tempo, mas isso foi chão que já deu uvas.

Publicado originalmente em Março de 2005

quinta-feira, maio 18, 2006

A Razão Sem Palavras

sem palavras

Já alguma vez ficaram sem palavras? Expliquem-me como é que isso se processa: ficam assim tipo como naqueles filmes mudos e a vossa boca mexe-se como se estivessem a falar embora não saia palavra nenhuma? Ficam apenas com os números e tudo o que dizem parece uma equação esquisita e incompreensível? Dizem coisas em morse, com tracinhos e pontinhos? Saem-vos sons guturais semelhantes a uma lontra com cio?
Isto de ficar sem palavras não me faz sentido nenhum. Ficar sem palavras é guardá-las dentro do vosso cérebro e não as mandar cá para fora? Se assim fôr só vocês é que as ouvem, o que é um bocadinho diferente de ficar sem elas. Ou o sentido é mesmo literal e elas nem no vosso cérebro ficam? Esta segunda hipótese é mais preocupante, porque para além de vocês provavelmente ficarem com um ar aparvalhado e digno de internamento (daquele que dá direito a várias sessões diárias de electrochoques nas têmporas), para onde vão as palavras?
São este tipo de questões que me impedem de aceitar as coisas impunemente…

quarta-feira, maio 17, 2006

A Razão Divinal

divinal

Há uma anedota brasileira que conta que quando Deus andava a criar o mundo chegou aquela parte a que hoje corresponde ao Brasil e excitou-se: criou praias lindas, um clima ameno, florestas luxuriantes, recursos naturais em barda onde não faltava o ouro e as pedras preciosas, fauna e flora que permitisse que quem para lá fosse teria a capacidade de sobreviver sem esforço e sem nunca passar fome. Desvairado por toda aquela excitação Deus parou um bocado e pensou que o sítio estava a ficar demasiado parecido com o paraíso e então decidiu fazer com que aquilo fosse um dia descoberto pelos portugueses.
Seguindo esta linha de raciocínio divina, em que diabo estava Ele a pensar quando criou a nossa telenovela mexicana? Numa situação de perda/perda?

terça-feira, maio 16, 2006

A Razão do Mister

23
Sabemos que estamos em Portugal quando a maioria dos vinte e três escolhidos para representar o país num acontecimento mundial tem dificuldade em alinhar um único pensamento na sua língua mãe.

segunda-feira, maio 15, 2006

A Razão Digest

digest
Acho piada aquelas edições digest reescritas por uns tipos que têm um imenso poder de síntese, e cuja função consiste em pegar em duas dúzias de páginas escritas e transformá-las numa única página que significa exactamente a mesma coisa. A existência destes indivíduos suscita-me dúvidas filosóficas sobre o papel dos autores originais da obra: se há indivíduos que conseguem dizer em meia dúzia de linhas aquilo que os tipos que escreveram originalmente disseram naqueles calhamaços monstruosos, tipo o «Ulisses» do James Joyce, é porque há ali imensa palha desnecessária que me faz perder tempo desnecessário. Tempo esse que poderia estar a utilizar para ler outras obras em versão digest. Pensem na quantidade de livros que já leram até hoje e multipliquem por 12 ou por 20 e vejam só o que têm andado a perder porque há gajos que não têm a capacidade de resumir a sua lógica de pensamento.
Por mim eu gostaria de ver o que estes tipos que resumem fariam às coisas que a Margarida Rebelo Pinto escreve. Aquilo é tão fácil de digerir que os livros da senhora se traduziriam em apenas uma frase. Por exemplo:


Sei Lá – Gosto de gajos mas não faço ideia do que é uma relação estável.

Não há coincidências – Gosto de gajos mas não faço a mínima ideia do que é ter uma relação estável e excitante.

Alma de Pássaro – Gosto de gajos.

Artista de Circo – Gosto de gajos do circo e com uma elasticidade fora do normal.

I’m in Love with a Popstar – Gosto de gajos desde que cantem.

Nazarenas e Matrioskas – Gosto de gajos e não tenho jeitinho nenhum para arranjar títulos para os meus livros.

Pessoas como Nós – Gosto de gajos normais (à falta de melhor).

Diário da Tua Ausência – Gosto de tudo o que mexa.


Estão a ver? Já leram oito obras da Margarida Rebelo Pinto em apenas 10 segundos. E agora podem dedicar os vossos próximos 5 minutos a ler todas as obras escritas nos últimos dez anos por tias encalhadas com a ilusão vertiginosa que são escritoras. Não haja dúvida que as versões digest são úteis à brava.

domingo, maio 14, 2006

A Razão em Privado

privado
Escrever não é uma coisa de que nos envergonhemos, mas devemo-lo fazer em privado e lavar as mãos depois.

Robert Heinlein

sábado, maio 13, 2006

A Razão Devota

votante
Se Deus quisesse que nós votássemos tinha-nos dado um candidato.

Jay Leno

sexta-feira, maio 12, 2006

A Razão Incrédula

incredula
No que diz respeito a acreditar em Deus posso garantir-vos que tentei. Tentei mesmo. Tentei acreditar que Ele existia, e que nos tinha criado à Sua imagem e semelhança, que nos amava muito, e que tinha isto tudo debaixo de olho.
Tentei acreditar nisto tudo. Mas devo dizer-vos que, quanto mais tempo vivemos, quanto mais olhamos à nossa volta, mas percebemos que... há qualquer coisa de errado. Isto está mal feito. Guerra, doença, morte, destruição, fome, pobreza, tortura, crime, corrupção e os programas da TVI. Alguma coisa está definitivamente errada aqui.
Se isto é o melhor que Deus consegue fazer, não estou nada impressionado. Resultados destes não fazem parte do currículo de um ser supremo. Isto é o tipo de merda que esperaríamos de um estagiário com um problema de atitude. Em qualquer universo bem gerido há muito que este tipo teria levado um valente pontapé no seu todo-o-poderoso cu, e bazado daqui para fora.
Então, se Deus existe – se existe – acho razoável que estejamos de acordo que Ele é, no mínimo, incompetente e talvez, e só talvez, se esteja nas tintas para isto. O que não é nada que me espante, e que explica muita coisa.


Adaptado de George Carlin

quinta-feira, maio 11, 2006

A Razão do Tédio

tedio

Se há uma maneira de distinguir a cultura ocidental da cultura oriental é a maneira como ambas encaram o tédio. Os orientais têm uma perspectiva positiva da questão: encaram o tédio olhando para o seu potencial. Para eles o tédio é um estágio do processo criativo. Um limbo. Acreditam que é a partir dele que tudo nasce. É uma perspectiva interessante e desculpabilizadora, na minha singela opinião.
Já na perspectiva ocidental o tédio é sinónimo de seca, de angústia desmesurada, de não ter nada para fazer, e de «ai ai ai tenho que fazer qualquer coisa para me sentir útil».
Os portugueses, provavelmente contaminados pelas influências muçulmanas que insistentemente gostamos de contrariar, têm uma perspectiva muito particular do tédio quando enquadrada no panorama ocidental: para o tuga, o tédio é uma merda que se tem de contrariar com todas as nossas forças. Se juntarmos a isto aquela característica nacional que nos define tão bem que é a inveja, então veremos que o tédio luso é a melhor aproximação ocidental ao tédio oriental: ficamos muito criativos para dar cabo da vida de alguém. O português quando está entediado embirra com outro português. É o seu modus operandi para ultrapassar esta questão. Embirra com o facto do outro não pertencer ao seu clube, embirra com o facto do outro ter uma casa melhor, um carro melhor, um emprego melhor, um ordenado melhor, uma inteligência melhor, um sentido de humor melhor, enfim... muita coisa melhor. O que é curioso é que este melhor é perfeitamente subjectivo. É algo que só quem está com tédio sente, e que não é necessariamente a realidade. Mas que se lixe: para o tuga, lixar outro tuga é a melhor maneira de saciar o seu tédio. É a nossa faceta Zen.

quarta-feira, maio 10, 2006

A Razão da Multa

multa
Ontem fui multado por excesso de velocidade. Mais uma vez. Mas ao contrário das outras vezes, ontem achei a situação divertida, porque com esta história da caça à corrupção policial estes tipos arranjam formas mais criativas de sacar dinheiro aos prevaricadores.
Então a coisa passou-se assim: eu a abrir que nem um doido numa avenida vazia da capital, atrasado para uma reunião, e os senhores do radar fazem-me parar a meio e informam-me que estou 50 km acima da velocidade legal. Eu confirmo a informação: não faço ideia a quantas ia, mas não me apetece perder tempo a discutir com dois tipos e um radar. Dou-lhes os documentos e o cartão multibanco para pagar e sair dali rapidamente. Pensava eu.
O agente Tavares, convenientemente, «baralha-se todo» com a máquina de multibanco portátil e engana-se nas contas: em vez de se ter pago de 40 euros o Tavares paga-se de 20 euros.
«Oh diabo, enganei-me!» dizia o gajo com uma naturalidade que o teria feito ser automaticamente apurado num casting dos Morangos com Açúcar, «E agora a máquina não me permite que eu faça outra vez a operação... O senhor não tem 20 euros em dinheiro consigo?»
Olhei para ele e para o meu relógio. O sacana queria mamar 20 euros e eu estava atrasado para uma reunião. Decidi ver até onde aquilo ia chegar, mandei uma sms a adiar a reunião e disse-lhe que não tinha dinheiro comigo. «Safa-te lá agora desta, Tavares» pensei eu.
O Tavares já tinha a coisa estudada: «Se não se importa este meu colega vai consigo a um terminal de multibanco e o senhor levanta o dinheiro que falta, desculpe lá a maçada.»
Continuei a achar a situação divertida: o colega era o agente Carvalho, um daqueles polícias motorizados, de calcinha apertada e bota de montar. Gay. Nunca tinha visto um polícia motorizado e gay, mas há sempre uma primeira vez.
«O senhor faça o favor de me seguir» diz o agente Carvalho com uma vózinha de falsete a condizer com o nome. E lá vou eu com um polícia gay de mota à minha frente em direcção ao multibanco mais próximo.
E agora chegamos à parte hilariante da questão: eu que tinha sido multado por excesso de velocidade numa zona sem trânsito vejo-me de repente com escolta policial, o Carvalho de sirene ligada, a entrar numa das zonas mais movimentadas de Lisboa, a passar sinais vermelhos, a entrar em sentidos proibidos para chegar rapidamente um multibanco. As contravenções que fiz naquele percurso faziam o meu excesso de velocidade parecer uma brincadeira de crianças. O Carvalho fez o favor de me transformar em veículo prioritário até ao próximo multibanco.
Quando lhe paguei os 20 euros em dinheiro, o Carvalho virou-se para mim e aconselhou-me simpaticamente: «o senhor parece um cidadão cumpridor e por isso vou dar-lhe dois conselhos: primeiro nunca vá a mais de 70 dentro da cidade porque a gente tem os radares regulados para o detectar acima dessa velocidade; e depois escreva ao Governador Civil e explique-lhe a situação, que estava com pressa e isso, pode ser que lhe retirem a multa».
Fantástico, pensei. Com sorte ainda é o Governador Civil de Lisboa que vai ajudar a pagar as férias ao Tavares.

terça-feira, maio 09, 2006

A Razão do Soldado Desconhecido

soldado desconhecido
Quando era puto achava que o Soldado Desconhecido era português. Achava que era um daqueles gajos do Corpo Expedicionário que, por não haver dinheiro para lhes darem uma arma, andaram à pedrada com os alemães numa qualquer trincheira francesa. Achava que era um daqueles gajos que ficaram para lá gaseados e não voltaram. Mais tarde apercebi-me que o Soldado Desconhecido existe em todos os países e o conceito deixou de me fazer sentido. Porque raio há-de toda a gente ter um monumento ao mesmo gajo? É uma promoção velada à traição e aos agentes duplos e triplos e quadruplos e o raio que os parta? Afinal o gajo trabalhava para quem?
E depois acho injusto que só se façam monumentos ao Soldado Desconhecido. Então e o Soldado Conhecido? Sim, esse gajo que toda a gente sabe quem ele é, e que andou por lá a apanhar uma camada de nervos e que apareceu prái cheinho de stress pós-traumático e que agora se atira para baixo da mesa da cozinha sempre que alguém deixa acidentalmente caír um prato, e que em todos reveillons causa vários embaraços familiares pulando para trás do sofá ao som do primeiro morteiro, gritando «Oh Sousa! Olha o canhângulo Sousa, foda-se pá! Amanda-te prá valeta, Sousa!».
Esse gajo não merece monumentos porquê?
Que não façam monumentos ao Soldado Conhecido de Meia Dúzia de Gajos que Já Bateram as Botas eu percebo. Afinal de contas já não há ninguém vivo para se lembrar; que não os façam ao Soldado Mais ou Menos Conhecido por Meia Dúzia de Gente, ainda vá. Agora fazer um monumento a um tipo que ninguém conhece é que não faz sentido nenhum.

Publicado originalmente no Devagares.

domingo, maio 07, 2006

A Razão do Assunto

assunto

Há sempre qualquer coisa sobre a qual escrever. Se não houver é porque vocês precisam de viver a vida de um modo mais agressivo.

Min Kim

sábado, maio 06, 2006

A Razão dos Privilegiados

estupidos
Todos têm o direito de ser estúpidos, mas há alguns que abusam desse privilégio.

Anónimo

sexta-feira, maio 05, 2006

A Razão do Príncipe Encantado

principe encantado
Um dos mais recorrentes mitos femininos dos séculos XX e XXI é o príncipe encantado: quase sem excepção, elas querem acreditar com todas as suas forças que algures por aí anda o eleito, o gajo, o seu príncipe encantado. Como li há pouco tempo num blog que visito, andam todas à procura do seu respectivo Mr. Big (eufemismo feminino do príncipe encantado dos dias de hoje).
Eu não sei como vos hei-de dar esta notícia, meninas. Devo confessar que pensei numa forma mais ou menos doce de vos tornar a coisa o menos dolorosa possível. Mas não me ocorreu nenhuma. E então aqui vai:
No dia em que vocês forem sempre carinhosas, bem humoradas e gostosas; no dia em que estejam sempre deslumbrantes, atrevidas e deliciosamente maliciosas; no dia em que não ligarem ao facto dos gajos se esquecerem de datas; em que não usarem a dôr de cabeça como desculpa esfarrapada para um sem número de coisas; no dia em que a vossa TPM não vos transformar em neanderthais sanguinários; nesse dia, e somente apenas nesse dia, talvez encontrem o vosso príncipe encantado. Até lá contentem-se com o que há por não reunirem os mínimos olímpicos das histórias de fadas: um monte de príncipes desencantados.

quinta-feira, maio 04, 2006

A Razão do Papel

papel
Há gente que tem muito papel e gente que nem por isso, mas é certo e sabido que todos nós temos um papel. Nem sempre é o mesmo papel, dado que ele muda de pessoa para pessoa ou mesmo de ocasião para ocasião. Os políticos por exemplo têm um papelão, e à custa disso os contribuintes têm um papel de embrulho, estando sempre envolvidos numa grandessissima embrulhada.
O Governo desta novela mexicana pretende ter um papel higiénico, predispondo-se a limpar muita merda mas sujando-se muito rapidamente ao primeiro contacto com esta. Acabam por ter apenas um papel de parede.
Os nossos queridos e produtivos funcionários públicos alternam entre um papel vegetal (daqueles vegetais sem cadeira de rodas) e um papel pardo (daquele de enrolar chouriços), quando não estão a fazer o costumeiro papel de parvos. Alguns milhares deles preparam-se para brevemente terem um papel reciclado (normalmente um tipo de papel mais caro que o papel normal).
Os nossos jornalistas, como não podia deixar de ser, têm um papel de jornal, sendo bastante úteis em épocas do ano mais frias, para embrulhar castanhas e outro tipo de frutos secos.
O nosso jet seis esforça-se por ter um papel couché: não só porque é fino ter um papel com um nome francês, mas porque couché fica a meio caminho entre coucher e couchon, e eles sentem-se em casa.
Há ainda quem tenha um papel químico pela impossibilidade genética e incapacidade intelectual de ter um papel que não seja uma quase fotocópia de outro.
Mas do que eu gosto particularmente é do papel fotográfico da Soraia Chaves, e de outras modelitas nacionais, é um mimo vê-las a fazer pasta de papel.

quarta-feira, maio 03, 2006

A Razão do Canadá

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De repente ficou tudo chocado ao ver os emigrantes portugueses serem implacavelmente recambiados do Canadá.
Qual é a surpresa?

Alguém foi ao engano para um país que, se repararem bem, é uma aliteração de «Cá Não Dá»?
Ninguém pode dizer que os gajos não avisaram.

A Razão Anti-Tabágica

anti-tabagica
«AGRADECEMOS QUE NÃO FUME». Falando por mim, não vejo nenhum problema na expressão «proibido fumar». É simples, é directa, é firme. Proibido fumar! Há perguntas? Óptimo.
Mas «agradecemos que não fume»? Em primeiro lugar é fraco. Em segundo lugar, por amor de Deus, estão a agradecer o quê? É como se achassem que vos estão a fazer um favor por não vos ajudarem a ter um cancro no pulmão.
Se eu estivesse a tentar desencorajar as pessoas de fumar, a minha placa seria ligeiramente diferente. Até era capaz de ir longe demais na direcção oposta. A minha placa diria qualquer coisa como: «Fume, se quiser. Mas se fumar prepare-se para isto: primeiro vamos confiscar-lhe o cigarro e apagá-lo algures na sua pele. Depois vamos enfiar os seus dedos manchados de nicotina numa trituradora de papel e atirá-los para a rua, onde cãos vadios vão comê-los e regurgitá-los para os esgotos para que as ratazanas possam ocupar-se deles antes de serem despejados para o mar com o resto da imundície da cidade. Depois disto vamos procurar os seus familiares e amigos, e dar cabo das vidas deles».
Não gostavam de ver uma placa assim? Aposto que muitos fumadores pensariam duas vezes antes de acender o cigarro perto de um placa destas. É preciso sermos directos. «Agradecemos que não fume» é pura e simplemente embaraçoso. Acho que toda esta linguagem simpática e eufemística é mais um sinal de que cada vez mais o nosso país não sabe a quantas anda.

George Carlin

terça-feira, maio 02, 2006

A Razão do Capuchinho Vermelho

capuchinho vermelho
Da série «histórias mal contadas» temos hoje o famoso Capuchinho Vermelho: a história de uma jovem criatura do sexo feminino que vai levar o lanche à sua avózinha doente, que vive do outro lado da floresta e que encontra um lobo que a quer comer. Literalmente.
Eu tenho imensas reservas quanto a esta história de miséria infantil e pedofilia. A começar pelo comportamento perfeitamente inconsciente da mãe que envia a criancinha para o desconhecido e vestida de vermelho (de referir que a escolha do vermelho não é a mais feliz, remetendo-nos de imediato para um universo de potencial deboche com forte conotação sexual – o que provavelmente foi a intenção do autor da história), expondo-a desnecessariamente à luxúria rebarbada de um lobo que, pelos vistos, tresandava a pedófilo como gente grande.
Diz a história que o lobo interpela a criancinha a meio caminho, ficando a saber qual o seu destino. Pergunto-me porque diabo o lobo não deu azo às suas desvairadas pulsões sexuais logo no primeiro encontro e não despachou logo ali a jovem de vermelho? Continuo sem perceber a opção do lobo em deslocar-se inicialmente para a casa da avózinha, comê-la (se isto não é um comportamento desviante, não sei o que será...) e logo a seguir travestir-se de avózinha (outro comportamento de conduta deveras questionável) aguardando pacientemente a chegada da jovem de capuchinho vermelho. Temos portanto um lobo travesti e pedófilo com um gosto mórbido por gerontes, e um comportamento assaz maquiavélico a roçar o compulsivo-obsessivo – é muita fruta para um lobo só.
Mas onde a história descamba completamente é quando o Capuchinho Vermelho chega à casa da avózinha e não se apercebe de imediato que aquele ser deitado não é a sua avózinha mas sim o lobo. Das duas uma: ou a velha tinha problemas graves de saúde para apresentar aquela pelagem ou o Capuchinho Vermelho era um verdadeiro calhau com olhos. Eu por mim aposto na segunda hipótese, a julgar pelas perguntas inconsequentes que a petiz faz à sua pouco provável avó.
O lobo acaba por se fartar de tanta pergunta e come também, várias vezes durante essa tarde, a pequena Capuchinho Vermelho. Diz a história oficial que uns lenhadores entram pela casa adentro e salvam a situação matando o lobo, abrindo-lhe a barriga, e retirando de lá dentro a avó e o Capuchinho Vermelho, intactas. Frescas que nem uma alface!
Eu acho estranho este comportamento dos lenhadores a entrarem ali por dentro como se fosse tudo deles. A não ser que houvesse ali marosca da boa com a avó e aquilo fosse um comportamento habitual. Mas acho ainda mais estranho que as criaturas sejam arrancadas vivas das entranhas do lobo: ninguém aborda o efeito dos sucos gástricos nesta história?
O verdadeiro desfecho não foi, obviamente, o oficial. Na realidade o lobo não comeu ninguém no sentido gastronómico do termo. Avózinha e Capuchinho Vermelho tornaram-se escravas sexuais do animal. E numa sessão mais violenta, que envolvia chicotes e chaves inglesas besuntadas em mel, a gritaria era tanta que atraíu uma equipa de vigorosos lenhadores. É certo que o lobo morreu depois de umas machadadas, mas a vida da avózinha e da Capuchinho Vermelho nunca mais foi a mesma a partir de então. Ainda hoje é grande a fama da cabana da lanterna vermelha no confins do bosque.

segunda-feira, maio 01, 2006

A Razão do Dia do Trabalhador

trabalhador
Quando alguém te disser que enriqueceu à custa de trabalho árduo, pergunta-lhe: «De quem?»


Don Marquis