domingo, janeiro 28, 2007

A Razão do Júri

juri

Um júri consiste num grupo de doze pessoas escolhidas para decidir quem tem o melhor advogado.


Robert Frost

sábado, janeiro 27, 2007

A Razão da Reputação

reputação

Já repararam quando dá na televisão a captura de um tipo procurado pelas autoridades e ele passa diante das câmaras, escoltado pela polícia, a cobrir a cara com os braços, com o jornal ou com o casaco enfiado por cima da cabeça? O tipo estará preocupado com o quê? Estará preocupado com o efeito negativo que esta exposição mediática possa ter no seu bom nome e reputação? Será que o indivíduo estava à espera de ser promovido lá no emprego e tem medo que o patrão esteja em casa a ver as notícias?
«Aquele ali não é o Osvaldo das vendas? Então mas o gajo andava a fazer assaltos à mão armada nos transportes públicos? Não sei este é o tipo de pessoa que eu quero a trabalhar no meu departamento de vendas. Não era mal pensado transferi-lo para as cobranças difíceis. O gajo tem jeito para aquilo.»

Adaptado de Jerry Seinfeld

sexta-feira, janeiro 26, 2007

A Razão da Sala de Espera

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A sala de espera é um conceito curioso. Porque é exactamente aquilo que o nome indica: a malta vai para uma sala e espera. Espera até que nos venham chamar. Não tem nada a ver com as salas de estar. Nas salas de estar podemos sempre optar por não estar, muito embora elas continuem a ser designadas por sala de estar. Nas salas de espera não há hipótese. Temos mesmo que esperar, caso contrário estas não fazem sentido. Nem sequer faz sentido nós esperarmos. É tudo muito esquisito, na realidade.
Como a malta, de um modo geral, não tem grande paciência para esperar, as salas de espera são uma verdadeira seca para a maior parte de nós. Mas não para mim. Gosto das salas de espera. Gosto de passar lá eternidades. São uma verdadeira fonte de inspiração.
Se estou à espera de uma consulta médica na sala de espera costumo olhar para a malta que espera comigo e imaginar que tipo de doenças eles terão. A experiência é muito mais rica dependendo da especialidade médica em questão: se estou no dentista olho para o gajo à minha frente e imagino o estado putrefacto das suas gengivas. Se estou no dermatologista imagino que o tipo deve passar umas noites tramadas a coçar-se que nem um animal. Se estou no oftalmologista consigo topá-lo a fazer um esforço para ler, incompreensivelmente por falta de visão, um relatório que determina que ele e toda a sua equipa serão despedidos no próximo mês. Se estou no gastroentologista consigo revê-lo a peidar-se tão abundantemente que toda aquela produção de gases daria lucro à Gás de Portugal.
As salas de estar das empresas também são altamente produtivas: nelas vejo a secretária que come o patrão; o escriturário que tem fantasias sexuais com um marcador luminoso; o paquete rebarbado com a executiva; a executiva a querer dar para quem passa. Enfim, um verdadeiro ecossistema de javardice impronunciável.
Mas é nas salas de estar da Função Pública que a coisa atinge o nível do nirvana: não se passa nada. Nada mesmo. Até se tem alguma dificuldade em perceber se aqueles seres atrás do balcão têm funções respiratórias. É a sala de espera em todo o seu esplendor.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A Razão das Manifestações a Pagantes

manifestacoes a pagantes
Há muito, muito tempo atrás escrevi que «há uns anos atrás a malta quando protestava fazia-o à séria». Hoje tive mais uma constatação deste facto ao descobrir que uma empresa alemã aluga manifestantes para protestar em causas avulso. A coisa funciona assim: vocês têm uma causa qualquer. Até pode ser uma boa causa. Daquelas causas em que até apetece morrer por elas. Mas em vez de causarem o incómodo a alguém que vos terá que assinar a vossa certidão de óbito, optam por alugar umas centenas de manifestantes que protestarão vigorosamente pela vossa causa arriscando-se, em vosso lugar, a levar porrada de uma valente carga de GNR’s rebarbados e sebosos.
Assim vai o estado dos ideais na bela Europa. Os netos dos gajos que fizeram o Maio de 68 vendem-se para manifestar pelo que quer que seja. Fico curioso por saber o que os alucinados do glorioso PREC pensam sobre isto. É que uma matracada na tromba por uma boa causa tem outro sabor. É como roubar maçãs do quintal do vizinho: sabem infinitamente melhor – aliás, uma maçã comprada é sempre uma maçã estragada.
É claro que se a ideia pegar em Portugal quem se vai lixar (como sempre) é a Função Pública. Com todos aqueles putos a manifestarem-se impunemente por dinheiro (situação que não fica muito longe das manifestações prostitutivas da Função Pública) como é que aquelas alimárias podem justificar os dias de falta para se manifestarem contra o «roubo do seu tacho»?
Estou a pensar abrir um franchise da empresa alemã em Portugal. Só para chatear.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

A Razão das Caixinhas

caixinhas
Desde que saíram da caverna, os seres humanos têm uma apetência natural para viverem em caixinhas. Todos os dias, saímos de dentro de uma caixa a que chamamos casa, entramos numa outra caixa a que chamamos automóvel e conduzimo-la até uma outra caixa a que chamamos emprego. Viajamos em caixas atreladas umas às outras que andam em cima de carris, em caixas que flutuam na água e até em caixas que voam. De vez em quando gostamos de ir dançar para dentro de caixas ruidosas, ou de passar um tempo com os amigos em caixas que têm como função servir substâncias líquidas mais ou menos entorpecentes e etilizantes. Há caixinhas para tudo e mais alguma coisa. São poucas as coisas que se fazem fora das caixinhas. Talvez por isso as férias constituam quase sempre um bom motivo para passar a maior parte do tempo fora das caixas, ou pelo menos em caixas diferentes das habituais
A vida parece consistir numa sucessão de caixinhas em catadupa. Uma após outra. Já nem reparamos nelas. Fazem parte desta caixinha grande a que chamamos Terra e de onde conseguimos observar um conjunto de outras caixas grandes e distantes, questionando se existirão por lá outras caixinhas habitadas.

Até aqui, nesta fatia de internet, gostamos de nos arrumar em caixinhas. Reparem bem na forma deste blog…

sexta-feira, janeiro 19, 2007

A Razão do Maior Português

maior portugues
Tenho dificuldade em entender esta votação do «Maior Português». Principalmente quando olho para o resultado das votações e vejo figurinhas como o Pinto da Costa, o Ricardo Araujo Pereira, e o Saramago (esse esbirro nobelizado) nos 100 mais votados. Afinal a votação é para o «Maior Palhaço Português»?
Outra coisa que salta à vista nesta votação, para além dos palhaços e dos palhacinhos, é que a maioria dos candidatos está morta. É verdade. A shortlist dos 10 portugueses finalistas não tem ninguém vivo. O que me leva a concluir que, para a maioria dos portugueses, o maior português é o português morto. Isto diz muita coisa sobre como os portugueses se vêem a si próprios: um tipo só é bom e grande quando bate as botas. Enquanto está vivo o português é sempre pequenino. Daí que eu acharia mais plausível que o melhor teria sido eleger o «Português Mais Pequenino». A votação ficaria não só mais rica em participações, como renderia muito mais dinheiro à RTP.
No final da votação do «Português Mais Pequenino» teríamos certamente 10 finalistas extremamente contemporâneos: todos vivinhos, invejosozinhos, corruptozinhos, indigentezinhos e sempre cheio de expedientezinhos. O difícil seria limitar a eleição a 10 finalistazinhos.

Na actual lista a minha escolha é o Aristides de Sousa Mendes. Mas não como o maior português, porque a abnegação que o homem demonstrou não é uma característica nacional. Até muito pelo contrário. O mais certo seria que, como bom português, o Aristides tivesse acatado as ordens superiores e não se aborrecesse muito com os refugiados judeus que lhe batiam à porta. Não seria certamente um problema dele.
Voto no Aristides porque, daquela listinha, foi o melhor ser humano.