quinta-feira, abril 07, 2005

A Razão da Idade (1ªParte)

idades

Se há um termo que me deixa perplexo é a “terceira idade”. Principalmente porque nunca ouvi qualquer referência à “primeira” nem à “segunda” idades. Como é que se processa esta ordenação? Isto cheira-me a coisa de sociólogos: são muito desenvoltos na estatística mas baralham-se com qualquer número que não tenha uma percentagem.
A outra questão que me coloco é se haverá uma “quarta idade”? Ou pelo menos se haverá tempo para isso? Duvido. Ninguém tem grande pachorra depois dos 80 anos. Isto de se numerarem as idades omitindo umas, e morbidamente destacando uma delas não me parece um bom método de classificação da longevidade humana.
E depois há aquela designação que é a “Idade de Ouro”, um sinónimo da “terceira idade”. E mais uma vez não há alusões a idades anteriores à do “ouro”. Ao menos os paleontólogos foram mais explícitos quando atribuíram metais aos vários estágios da evolução humana nos seus primórdios…
Uma vez que não está encontrada nenhuma razão plausível para a “terceira idade” ou para a “idade do ouro”, sugiro que se faça uma classificação decente do fenómeno do envelhecimento humano. Assim sendo, vamos considerar a exsitência de cinco idades:

A Idade da Mama
Inicia-se no nascimento e conclui-se no momento em que deixamos de mamar e passamos a apreciar coisas sólidas e mastigáveis. Há malta que nunca abandona esta idade e vai querer mama até ao fim dos seus dias: são os mamões, esses ordinarecos chupistas.

A Idade da Avaria
É uma fase de pura descoberta onde tentamos perceber a razão das coisas. É normal que nesta fase tenhamos que substituír vários electrodomésticos lá em casa, vítimas de dissecação e estropiamento mais ou menos violento.
Há malta que nunca abandonará esta idade e continuará em plena avaria até ao fim dos seus dias. Refiro-me obviamente aos políticos e à malta que ocupa cargos públicos.

A Idade da Hormona Desenfreada
Nesta fase descobrimos a nossa sexualidade e a de mais umas boas dezenas de pesssoas. Os casos mais extremos até descobrem a sexualidade de alguns animais. Uma verdadeira porcaria. Também aqui há uns quantos que nunca vão abandonar esta idade. O espécime mais paradigmático desta idade é o Zézé Camarinha.

A Idade da Ilusão
Esta é a idade mais longa. Aqui vamos querer provar a nós próprios e aos outros que temos uma qualquer habilidade: social, pessoal ou profissional. Alguns conseguem-no provar na sua totalidade. Outros não. Nesta idade a ideia de felicidade começa a tornar-se obsessiva, ao ponto de se esgotarem todos os cartuchos a tentar atingi-la. Eventualmente alguns irão entender que felicidade é um estado transitório que não augura nada de bom. Mas a maioria ficará na santa e salutar ignorância, a caminhar para um horizonte que se afasta à medida que nos vamos aproximando. A busca por esta linha do horizonte vai fazer com que uma grande maioria de nós passe por esta idade sem tirar verdadeiro partido dela. Azarito.

A Idade do Rododendro Equivocado
Chegamos então à idade mais lixada, por ser a última. Depois dela deixamos de ser convidados para a maioria das festas de aniversário. Os nossos interesses simplificam-se substancialmente nesta idade. Já ficamos satisfeitos se os nossos intestinos funcionarem uma vez por semana, e se a escoliose nos permitir tratar do rododendro (se bem que nos esqueçamos frequentemente do nome do raio da planta que diária e religiosamente regamos para matar o tempo antes que ele nos mate a nós).

Sem comentários: