Vi há pouco tempo num telejornal que o hospital de Portalegre está sem cardiologista. Já fizeram trinta por uma linha para recrutar um cardiologista mas nada. Não há em Portugal um único cardiologista que queira ir trabalhar para Portalegre.
Fui indagar porque razão é que esta categoria médica se recusava a trabalhar num hospital distrital do Alto Alentejo e entrevistei alguns cardiologistas. A maior parte deles afirmou não abdicar de uma vidinha fácil em Lisboa ou no Porto onde podem fazer umas horitas no hospital e ganhar mais algum por fora em vários consultórios médicos. Alguns disseram que não aguentavam o frio e que a casa que estava disponível em Portalegre não tinha aquecimento central. Outros não gostavam (?) da gastronomia alentejana. Alguns ainda queixavam-se de dores no artelho. As razões enunciadas foram muitas.
O que vai acontecer provavelmente em Portalegre é contratar-se um cardiologista espanhol. Esses aparentemente têm ainda presente o juramento de hipócrates e fazem medicina porque provavelmente acham que é uma maneira de dar uma melhor qualidade de vida a quem precisa. Em Portugal a medicina serve para dar qualidade de vida a quem a pratica.
E quando o tal cardiologista espanhol chegar a Portalegre, e se sentar na sua secretária, iremos ouvir um chorrilho de queixas ressabiadas, que isto está entregue aos espanhóis e que qualquer dia falamos todos castelhano. Esta é uma razão muito portuguesa: mais vale pobres, miseráveis e doentes do que ricos, construtivos e saudáveis.
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