segunda-feira, agosto 01, 2005

A Razão do Perfume

perfume
Falar de perfume é um inebriante e estimulante exercício evocativo de sensações entrelaçadas de almíscar e alfazema, trespassadas por bergamota, com pequenos apontamentos de zimbro e cravo de Madagascar; é um imaginário salpicado de lavanda, polvilhado de canela do oriente, e avivado por patchouli com ligeiras notas de cedro.
Falar de perfume é, em suma, falar de merda, e de como disfarçar o seu cheiro. Foi essa a motivação daquele povinho ridículo que fala com a boquinha em «U», quando um dia percebeu que podia disfarçar o cheiro a mijum e a sebo que adquiriam por não gostarem de se lavar.
É claro que o conceito de perfume evoluíu muito desde a sua criação, o mesmo não se pode dizer dos franceses, que continuam com uma aversão animalesca à água e às suas propriedades higiénicas. Mas não percamos muito tempo com eles, para que a conversa não comece a cheirar mal.
Detenhamo-nos um pouco sobre as propriedades afrodisíacas do perfume. Um perfeito mito. Dizem que determinados perfumes estimulam o apetite sexual e tornam irresistível o seu utilizador. Convém no entanto realçar que isto só se verifica quando o utilizador apresenta uma fisionomia de características generosas, ombreando com qualquer Naomi Campbell, Heidi Klum, ou Jessica Alba. Vaporize-se com DKNY uma rapariga de 150kg e nem por isso ela terá uma noite mais preenchida.
Analisemos a função do perfume com mais detalhe: a sua utilização serve para realçar aspectos de personalidade, enriquecendo-a e tornando-a mais apetecível aos olhos (ou narizes) dos outros? Ou é simplesmente uma roupagem virtual destinada a cobrir cheiros de origem animal que tornariam qualquer engate de sábado à noite num suplício digno de uma prisão turca? Pessoalmente inclino-me mais para a segunda hipótese, embora conheça gente que só tem personalidade entre as 8 e as 9h da manhã, altura em que o perfume ainda faz efeito.
E o que dizer sobre a origem vegetal de todos os perfumes? Porque diabo não há perfumes de origem animal? Qual é o problema de cheirar a cavalo lusitano entrecortado com sândalo? Ou de cheirar a antílope em pleno época de cio com pequenos apontamentos de cidreira? Será por puro preconceito que alguém evita usar um perfume de boga do Guadiana? Ou mesmo de caboz de água doce?
Uma coisa é certa, os franciús têm uma fixação esquisita com vegetais. Resta saber se lhes tiram as cadeiras de rodas antes de os transformarem em essências aromáticas.

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