quarta-feira, junho 15, 2005

Razões Inevitáveis

inevitaveis
A selva estava a arder e a única solução era atravessar o rio para a outra margem, protegida do incêndio. O escorpião estava na margem errada e olhava nervosamente os elefantes, antílopes, e outros mamíferos quadrúpedes que se faziam ao rio para atingir a margem segura. O incêndio avançava na direcção do escorpião que, infelizmente, não sabia nadar. «Lá estou eu aqui a ser obrigado a escolher entre o nada e o coisa nenhuma» pensava o escorpião, incomodado com o calor abafado que se aproximava cada vez mais.
Perto dele uma zebra preparava-se para saltar para o rio e nadar para a outra margem. O escorpião decidiu arriscar: «Ouve lá» disse ele à zebra, «não te importas que faça a travessia do rio no teu dorso?». A zebra levantou o sobrolho, respondendo «Estás armado em parvo? Tu és um escorpião – se eu te deixar vir no meu dorso o mais provável é tu dares cabo de mim em dois tempos... tem juízo.» O escorpião desesperou «Já pensaste que se eu der cabo de ti em dois tempos morro afogado no rio? Sou escorpião mas não sou estúpido. Vá lá, não me deixes aqui para morrer queimado.»
A zebra viu alguma lógica na resposta do escorpião e decidiu levá-lo no dorso até à outra margem. Quando estavam a meio do rio sentiu uma picada lancinante no dorso, seguida de um entorpecimento rápido. O escorpião tinha-lhe afincado o ferrão com toda a fé. «Mas tu és estúpido???» gritou a zebra «Vamos morrer os dois!»
«Bem sei» disse o escorpião «mas eu sou um escorpião, é mais forte que eu...»

A assistente social contava pacientemente a horda desorganizada de miúdos à medida que estes entravam no autocarro alugado. Tinha levado dois anos a convencer a Câmara a ceder-lhe um autocarro para levar os miúdos à praia. Era capaz de jurar que metade daqueles miúdos da Cova da Moura nunca tinha pisado numa praia. Quando o último entrou, ela subiu os degraus do autocarro, pegou no microfone dizendo «Bom dia meninos, daqui a momentos estaremos na praia de Carcavelos, quero que me prometam que se vão portar bem...»

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