terça-feira, dezembro 18, 2007

A Razão do Frenesim de Natal

frenesim
A malta está tão habituada ao frenesim de Natal que, este ano, não interessa nada que não haja dinheiro para comprar as prendas de Natal. O que interessa mesmo é sentir o frenesim. E aí vão eles, os tugas, a encher lojas e centros comerciais, cheios frenesim e de carteira vazia, numa perfeita simulação do que seria o Natal se o Estado não lhes tivesse ido buscar o dinheirinho todo em impostos e em mais valias absurdas.
É vê-los com um olhar perdido e sem sacos de compras nas mãos, a chocar uns com os outros como se tivessem pressa de chegar a algum lado. Os portugueses descobriram este ano um novo sentido para o Natal. Não interessa que se compre nada, até porque está tudo caro e o dinheiro escasseia. O que verdadeiramente interessa é desarrumar a cena. Desarrumar paulatinamente e sequencialmente todas as lojas abertas. Revirá-las do avesso. Levar os comerciantes à loucura perguntando os preços de tudo, até mesmo do que não está à venda.
O frenesim das compras de Natal deu lugar ao frenesim da desarrumação natalícia. Se não podemos comprar, ao menos que tenhamos a sensação que podemos escolher. Até ao infinito. Em direcção a lado nenhum. O costume…

segunda-feira, dezembro 17, 2007

A Razão do Ridículo

ridiculo
Li recentemente, de uma assentada, um livro curioso de António Costa Santos, sobre as proibições do chamado «antigo regime», intitulado «Proibido!». Li para me relembrar de algumas coisas que os adultos me contavam quando eu, chavalo, olhava para as imagens a preto e branco da revolução na televisão em 74, dando graças aos comunistas por me darem uma mão cheia de dias livres de aulas. Enquanto lia sobre as absurdas e tacanhas proibições do pré-25 de Abril, fui-me apercebendo que, passados 33 anos da libertadora revolução, o país continua tão ridículo quanto antes. Principalmente no que toca a proibições e deveres.
Esta percepção do ridículo é preocupante porque me faz ter a perfeita consciência que, por mais anos que passem, Portugal será sempre uma metáfora fácil do rídiculo tacanho e mesquinho. As leis neste país tiveram sempre aquela arbitrariedade imbecil e subjectiva do legislador, o mesmo gajo que há 40 anos proibia que se namorasse na rua, que as pessoas se pudessem divorciar, que as mulheres casadas pudessem ter passaporte e viajar para o estrangeiro, que pudéssemos ler certo livro ou ouvir certa música, esse legislador estreptococo, conseguiu criar uma prole de descendentes que hoje continuam a legislar no mesmo registo de estupidez subjectiva. É o caso dos mentecaptos da ASAE, que não legislam mas sugerem, proibições e deveres tão absurdos como os dos seus antecessores pulhas pidescos. Seria particularizar demasiado se chamássemos à ASAE os pulhas pidescos dos tempos modernos. Na realidade os socráticos, disfarçados sobre um conceito enviezado de socialismo, são na realidade uns fascizóides com vertigens alucinadas de Poder.
Estamos entregues a uma ditadura económica, tão perigosa quanto a ditadura tradicional. Hoje já não temos de ter licença para usar isqueiro, nem de ter medo de expressar livremente a nossa opinião (isto se não pensarmos naquele professor da DREN ou naquele bloguista do «Portugal Profundo» que se lixaram por falar mal do artolas do nosso primeiro-ministro), mas em contrapartida somos obrigados a descontar metade daquilo que ganhamos, a pagar ao Estado (essa abstracção incómoda) mais de 1/5 daquilo que compramos e a acatar obedientemente, como no tempo da ditadura a descoberto, todas as merdinhas de leis que o Governo vai inventando para pagar o seu status quo (que por vezes toma a forma de Audis topo de gama).

Que o país é ridículo é uma realidade. Que os portugueses se deixem ridicularizar por estes ditadorzecos de pacotilha, que mais parecem perus disléxicos em dias de cimeira é outra coisa.
Quem elegeu este Desgoverno merece, na boa tradição deste blog, uma tribo de somalis rebarbados, com a testosterona alterada quimicamente, pelos glúteos acima. Mas merece mais. Merece ter um tempinho de reflexão, só para ver em que estado é que deixou chegar este lugar mal frequentado a que chamamos país. Não estou nada satisfeito com os anormais babosos que deram o poder a este engenheiro instântaneo do José Sócrates.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

A Razão da Sala de Espera

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A sala de espera é um conceito curioso. Porque é exactamente aquilo que o nome indica: a malta vai para uma sala e espera. Espera até que nos venham chamar. Não tem nada a ver com as salas de estar. Nas salas de estar podemos sempre optar por não estar, muito embora elas continuem a ser designadas por sala de estar. Nas salas de espera não há hipótese. Temos mesmo que esperar, caso contrário estas não fazem sentido. Nem sequer faz sentido nós esperarmos. É tudo muito esquisito, na realidade.
Como a malta, de um modo geral, não tem grande paciência para esperar, as salas de espera são uma verdadeira seca para a maior parte de nós. Mas não para mim. Gosto das salas de espera. Gosto de passar lá eternidades. São uma verdadeira fonte de inspiração.
Se estou à espera de uma consulta médica na sala de espera costumo olhar para a malta que espera comigo e imaginar que tipo de doenças eles terão. A experiência é muito mais rica dependendo da especialidade médica em questão: se estou no dentista olho para o gajo à minha frente e imagino o estado putrefacto das suas gengivas. Se estou no dermatologista imagino que o tipo deve passar umas noites tramadas a coçar-se que nem um animal. Se estou no oftalmologista consigo topá-lo a fazer um esforço para ler, incompreensivelmente por falta de visão, um relatório que determina que ele e toda a sua equipa serão despedidos no próximo mês. Se estou no gastroentologista consigo revê-lo a peidar-se tão abundantemente que toda aquela produção de gases daria lucro à Gás de Portugal.
As salas de espera das empresas também são altamente produtivas: nelas vejo a secretária que come o patrão; o escriturário que tem fantasias sexuais com um marcador luminoso; o paquete rebarbado com a executiva; a executiva a querer dar para quem passa. Enfim, um verdadeiro ecossistema de javardice impronunciável.
Mas é nas salas de espera da Função Pública que a coisa atinge o nível do nirvana: não se passa nada. Nada mesmo. Até se tem alguma dificuldade em perceber se aqueles seres atrás do balcão têm funções respiratórias. É a sala de espera em todo o seu esplendor.

Publicado originalmente a 26.01.2007