quinta-feira, maio 31, 2007

A Razão do Joelho do Eusébio

joelho do eusebio
O rapaz tinha talento e não havia ninguém que o negasse. O rapaz tinha tanto talento que acabou por se tornar num ícone do país (um bocadinho como agora tentam fazer com o Cristiano). Naquele tempo, o que importava mesmo era o rapaz e a rapariga que cantava fado. Para qualquer lado do mundo onde fôssemos, desde o condutor de tuc tuc malaio ao sherpa tibetano, todos conheciam o nome do rapaz (que soava esquisito em cada sotaque). Para muita gente por esse mundo fora, o país e o rapaz eram a mesma coisa. Para nós o rapaz era um herói que um dia nos fez sonhar. A dada altura o rapaz teve um problema no joelho. As cartilagens do joelho do rapaz começaram a acusar o cansaço de aguentar todo aquele talento, jogo após jogo. E o rapaz tinha dores inimagináveis sempre que jogava. Para o rapaz continuar a dar espectáculo e a distrair-nos daquilo que andava à nossa volta decidiram dar-lhe injecções de cortizona no joelho. E durante algum tempo o rapaz jogou como se não tivesse dor. Mas aquilo custava-lhe.
Sempre que o rapaz se queixava, alguém lhe espetava uma injecção no joelho. Até que o rapaz só conseguia jogar nos últimos 10 minutos do jogo. E que 10 minutos! Era pura magia naqueles 10 minutos.
Um dia, o rapaz deixou de conseguir jogar os últimos 10 minutos. Já não tinha cartilagens no joelho, a rótula começou a desgastar-se e a desaparecer, e o rapaz deixou de conseguir correr e rematar. Por mais injecções que lhe dessem no joelho, já não havia nada a fazer. O rapaz já não tinha condições para continuar.
Sempre que invoco esta triste história do Eusébio, e do aproveitamento carniceiro que fizeram do seu talento, lembro-me do que o José Sócrates mais a sua vara de acólitos anda a fazer a este país. Neste momento andamos a jogar os últimos 10 minutos com os joelhos atestados de cortizona e os gajos insistem em dar-nos a injecção. Cartilagens já não temos. Temos rótulas que parecem berlindes. Mas ainda assim há sempre um animal de agulha espetada para nos dar a injecção.

Um abraço ao Luís Veríssimo, dono desta analogia num outro contexto, que me inspirou este pequeno desabafo.

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