terça-feira, dezembro 18, 2007

A Razão do Frenesim de Natal

frenesim
A malta está tão habituada ao frenesim de Natal que, este ano, não interessa nada que não haja dinheiro para comprar as prendas de Natal. O que interessa mesmo é sentir o frenesim. E aí vão eles, os tugas, a encher lojas e centros comerciais, cheios frenesim e de carteira vazia, numa perfeita simulação do que seria o Natal se o Estado não lhes tivesse ido buscar o dinheirinho todo em impostos e em mais valias absurdas.
É vê-los com um olhar perdido e sem sacos de compras nas mãos, a chocar uns com os outros como se tivessem pressa de chegar a algum lado. Os portugueses descobriram este ano um novo sentido para o Natal. Não interessa que se compre nada, até porque está tudo caro e o dinheiro escasseia. O que verdadeiramente interessa é desarrumar a cena. Desarrumar paulatinamente e sequencialmente todas as lojas abertas. Revirá-las do avesso. Levar os comerciantes à loucura perguntando os preços de tudo, até mesmo do que não está à venda.
O frenesim das compras de Natal deu lugar ao frenesim da desarrumação natalícia. Se não podemos comprar, ao menos que tenhamos a sensação que podemos escolher. Até ao infinito. Em direcção a lado nenhum. O costume…

segunda-feira, dezembro 17, 2007

A Razão do Ridículo

ridiculo
Li recentemente, de uma assentada, um livro curioso de António Costa Santos, sobre as proibições do chamado «antigo regime», intitulado «Proibido!». Li para me relembrar de algumas coisas que os adultos me contavam quando eu, chavalo, olhava para as imagens a preto e branco da revolução na televisão em 74, dando graças aos comunistas por me darem uma mão cheia de dias livres de aulas. Enquanto lia sobre as absurdas e tacanhas proibições do pré-25 de Abril, fui-me apercebendo que, passados 33 anos da libertadora revolução, o país continua tão ridículo quanto antes. Principalmente no que toca a proibições e deveres.
Esta percepção do ridículo é preocupante porque me faz ter a perfeita consciência que, por mais anos que passem, Portugal será sempre uma metáfora fácil do rídiculo tacanho e mesquinho. As leis neste país tiveram sempre aquela arbitrariedade imbecil e subjectiva do legislador, o mesmo gajo que há 40 anos proibia que se namorasse na rua, que as pessoas se pudessem divorciar, que as mulheres casadas pudessem ter passaporte e viajar para o estrangeiro, que pudéssemos ler certo livro ou ouvir certa música, esse legislador estreptococo, conseguiu criar uma prole de descendentes que hoje continuam a legislar no mesmo registo de estupidez subjectiva. É o caso dos mentecaptos da ASAE, que não legislam mas sugerem, proibições e deveres tão absurdos como os dos seus antecessores pulhas pidescos. Seria particularizar demasiado se chamássemos à ASAE os pulhas pidescos dos tempos modernos. Na realidade os socráticos, disfarçados sobre um conceito enviezado de socialismo, são na realidade uns fascizóides com vertigens alucinadas de Poder.
Estamos entregues a uma ditadura económica, tão perigosa quanto a ditadura tradicional. Hoje já não temos de ter licença para usar isqueiro, nem de ter medo de expressar livremente a nossa opinião (isto se não pensarmos naquele professor da DREN ou naquele bloguista do «Portugal Profundo» que se lixaram por falar mal do artolas do nosso primeiro-ministro), mas em contrapartida somos obrigados a descontar metade daquilo que ganhamos, a pagar ao Estado (essa abstracção incómoda) mais de 1/5 daquilo que compramos e a acatar obedientemente, como no tempo da ditadura a descoberto, todas as merdinhas de leis que o Governo vai inventando para pagar o seu status quo (que por vezes toma a forma de Audis topo de gama).

Que o país é ridículo é uma realidade. Que os portugueses se deixem ridicularizar por estes ditadorzecos de pacotilha, que mais parecem perus disléxicos em dias de cimeira é outra coisa.
Quem elegeu este Desgoverno merece, na boa tradição deste blog, uma tribo de somalis rebarbados, com a testosterona alterada quimicamente, pelos glúteos acima. Mas merece mais. Merece ter um tempinho de reflexão, só para ver em que estado é que deixou chegar este lugar mal frequentado a que chamamos país. Não estou nada satisfeito com os anormais babosos que deram o poder a este engenheiro instântaneo do José Sócrates.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

A Razão da Sala de Espera

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A sala de espera é um conceito curioso. Porque é exactamente aquilo que o nome indica: a malta vai para uma sala e espera. Espera até que nos venham chamar. Não tem nada a ver com as salas de estar. Nas salas de estar podemos sempre optar por não estar, muito embora elas continuem a ser designadas por sala de estar. Nas salas de espera não há hipótese. Temos mesmo que esperar, caso contrário estas não fazem sentido. Nem sequer faz sentido nós esperarmos. É tudo muito esquisito, na realidade.
Como a malta, de um modo geral, não tem grande paciência para esperar, as salas de espera são uma verdadeira seca para a maior parte de nós. Mas não para mim. Gosto das salas de espera. Gosto de passar lá eternidades. São uma verdadeira fonte de inspiração.
Se estou à espera de uma consulta médica na sala de espera costumo olhar para a malta que espera comigo e imaginar que tipo de doenças eles terão. A experiência é muito mais rica dependendo da especialidade médica em questão: se estou no dentista olho para o gajo à minha frente e imagino o estado putrefacto das suas gengivas. Se estou no dermatologista imagino que o tipo deve passar umas noites tramadas a coçar-se que nem um animal. Se estou no oftalmologista consigo topá-lo a fazer um esforço para ler, incompreensivelmente por falta de visão, um relatório que determina que ele e toda a sua equipa serão despedidos no próximo mês. Se estou no gastroentologista consigo revê-lo a peidar-se tão abundantemente que toda aquela produção de gases daria lucro à Gás de Portugal.
As salas de espera das empresas também são altamente produtivas: nelas vejo a secretária que come o patrão; o escriturário que tem fantasias sexuais com um marcador luminoso; o paquete rebarbado com a executiva; a executiva a querer dar para quem passa. Enfim, um verdadeiro ecossistema de javardice impronunciável.
Mas é nas salas de espera da Função Pública que a coisa atinge o nível do nirvana: não se passa nada. Nada mesmo. Até se tem alguma dificuldade em perceber se aqueles seres atrás do balcão têm funções respiratórias. É a sala de espera em todo o seu esplendor.

Publicado originalmente a 26.01.2007

quinta-feira, novembro 29, 2007

A Razão dos Lambe-Cus

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A humanidade divide-se em dois géneros, para além dos meninos e das meninas: há os lambe-cus, e há aqueles cujas papilas gustativas não toleram o confronto sensorial directo com o streptococus vulgaris. A divisão não é equitativa. Os lambe-cus são, nitidamente, a maioria vigente.
Está veladamente convencionado nesta sociedade que «lamber um cu diariamente, garante um futuro polivalente». É uma forma de investimento a prazo.
Quem lambe um cu está convencido que, embora o sabor não seja nada por aí além, a coisa vale o esforço que daí advém. O cu lambido é normalmente grato, e o acto de lambecuzice raramente fica em cu alheio.
É importante referir que, para quem lambe cus, é perfeitamente indiferente o cu que está a lamber. É uma questão de fé que roça os critérios dos apostadores de cavalos: só se lambe um cu porque se tem fé que esse cu vale a pena lamber, porque vai dar algo a ganhar.
Lamber cus é um acto de fé completamente enviezado. Daí que seja extremamente fácil desatar a lamber outro cu qualquer, por dá cá aquela palha.
Para o lambe-cus, paradoxalmente, o importante não é lamber um cu em particular. É a aleatoriedade da coisa que dá riqueza ao acto e que aumenta a possibilidade de, um dia, deixar de lamber cus para ter o seu próprio cu lambido. Daí que se lambam cus de muitos quadrantes e de variadas influências. O cu é uma lotaria. Nunca se sabe ao certo qual é o que dá prémio. Portanto o lema é lamber indiscriminadamente.
É por essas e por outras que existe aquele ditado: «Quem tem cu tem medo». E se não tem, devia ter.

Publicado originalmente em 20.12.2007

quarta-feira, novembro 28, 2007

A Razão de Não Irmos Lá

ir la

«Assim não vamos lá» é uma daquelas nossas expressões que não tem correspondência em nenhuma outra língua. É um exclusivo nacional, quer na forma como no conteúdo. Todos nós sabemos que «assim não vamos lá». E se o «assim» é fácil de explicar e entender, porque basicamente se estende a tudo o que possamos fazer enquanto portugueses, já o «ir lá» se reveste de um sentido inexplicável que, na minha opinião, contribui para que de facto nunca lá cheguemos.
Sabemos que o país está a correr mal e que, se as coisas continuarem «assim, não vamos lá». A situação não é nova e assim não temos ido lá há alguns séculos. Convém no entanto perceber esta obsessão portuguesa em «ir lá». Porque raio havemos de ir lá? E onde fica isso? Ninguém sabe. E o problema reside exactamente nisso: andamos meio perdidos há séculos porque assim não vamos lá, mas não fazemos a mínima ideia onde é que lá fica. Sabemos apenas que não é assim que lá chegamos.
A verdadeira questão que devemos colocar não é saber onde é que é lá. Esse lugar estranho onde teimamos em nunca chegar por uma razão ou outra. A questão fundamental consiste em saber por que diabo havemos de ir lá e não podemos ficar exactamente aqui. Talvez porque estejamos fartos de aqui estar. Eu estou. Por isso mesmo é que este blog assim não vai lá.

Mesmo não indo lá, a «Razão» cumpriu hoje, precariamente, o seu terceiro aniversário. Durante a próxima semana vai cumprir-se a tradição de publicar o best of de 2007. Depois logo veremos se o blog vai lá ou não.

quarta-feira, junho 20, 2007

A Razão dos Testes em Animais

testes em animais
Fazem-me confusão aquelas marcas de cosmética que testam os seus produtos em animais.
Acho um bocadinho retorcido e desviante testar-se baton fucsia em vacas charolesas, esfoliante em borregos neozelandeses e creme de noite em salmões de dorso dourado.

Alguém devia dar umas noções de marketing a esta gente e explicar-lhes, por exemplo, que um morcego fêmea africano nunca usará Channel nº5, por muito que lhe apeteça sair à noite.

terça-feira, junho 19, 2007

A Razão de Ir a Despacho


Como bem sabemos, o Estado tomou conta deste país há tempo demais. E como tal o país ficou com tiques de Estado: trabalha-se pouco, protesta-se muito, sai-se cedo e, la piéce de resistance, vai-se a despacho. Tudo vai a despacho neste país. Ir a despacho é uma condição de se ser português, heróis do mar, e raio que parta os canhões, marchar marchar sempre em frente, tipo flautista de Hamelin em direcção a um penhasco qualquer.
A verdade é que isto é o país do despacho, até porque o despacho (ou ir a despacho – expressão deveras deliciosa) é a maneira mais segura de nada acontecer. E, de facto, nada acontece.
O acto de ir a despacho é encerrado em si mesmo: quando algo vai a despacho podemos ter a certeza que se iniciou um processo de pasteurização ao contrário – em vez de retirar os micróbios indesejáveis, ir a despacho é acrescentar mais germes, mais micróbios e mais formas de vida esquisitas que têm todas uma coisa em comum: recebem sempre o subsídio de desemprego ao fim de mês. Mesmo que sejam mal empregados para trabalhar.
E o país, ou aquilo que chamam a este lugar, vai a despacho. Mas tudo de um modo pouco despachado, como convém.
É uma pena que não se despache todo o Governo mais a função pública que se arrasta, penosamente, como uma tripa excedente agarrada às paredes rectais do Estado. Isto nem uma tribo somali despacha.

domingo, junho 17, 2007

A Razão do Insulto

insulto
Poucas coisas são gratificantemente libertadoras como um bom insulto aplicado no momento certo. Tem o efeito de uma ventania forte num dia nublado: deixa-nos o céu azul e solarengo. Limpa-nos a alma.
Não falo do insulto fácil, que não requer grande esforço dada a sua aplicação despersonalizada a qualquer pessoa ou situação. O insulto fácil é uma coisinha processada que sabe à mesma coisa em qualquer parte do mundo: um McDonalds da retórica. Agora um insulto personalizado e meticulosa ou inspiradamente aplicado é uma forma visceral de arte. Perpetuável no tempo, sem outra aplicação que não seja a original, que o viu nascer. Deixo aqui alguns exemplos:

A população é eminentemente portuguesa, quer dizer que ela é lenta, pobre, indolente, apática e preguiçosa.
Mark Twain, sobre os Açores.


O homem é tão inseguro de si mesmo que usa o cabelo como um idiota filho da puta, de modo a que as pessoas o possam reconhecer.
Rich Giachetti, sobre Don King.


Malditos sejam os danados porcos de ossos gelatinosos, os viscosos, os invertebrados inchados e insinuantes, os miseráveis sodomitas fétidos, os ardentes pederastas, os chorões, babando-se, perturbando-se, paralíticos, o bando fraco que fez a Inglaterra de hoje. Eles têm clara de ovos nas veias e a sua langonha é tão aguada que é um milagre que se possam reproduzir. Porquê, porquê, porque nasci eu em Inglaterra?
D.H. Lawrence, sobre o seu país natal.


Bambi com testosterona.
Owen Gleiberman, sobre Prince.


O encanto do homem é letal. Durante um momento está a nadar ao nosso lado e zás! Há sangue na água. A nossa cabeça foi-se.
John Barry, sobre Rupert Murdoch


Os americanos são uma raça de convictos e devem estar agradecidos por tudo aquilo que os deixamos fazer sem os enforcar.
Samuel Johnson

terça-feira, junho 12, 2007

A Razão da Opinião Política

opinião política
Um leitor chamou-me conscenciosamente à atenção de não ter piadinha nenhuma nas minhas opiniões políticas. Esta observação fez-me pensar nas minhas opiniões e no que elas têm de político, ou seja: em nada. A verdade é que me recuso a pensar politicamente sobre o que quer que seja. Até porque acho, sinceramente, que pensar politicamente sobre o que quer que seja é a mesma coisa que sujar qualquer linha de raciocínio. E eu gosto das coisas limpinhas. Não é que seja um maníaco da limpeza: não tenho qualquer fobia que me impila (palavra interessante numa perspectiva puramente feminina) a dizer aquilo que acho de uma forma cor de rosa, alaranjada, vermelha ou azulo-amarelada. Aliás acho que, se existem cores, o melhor é que as usemos com a pluralidade que elas merecem: nunca irei negar que um dia destes vi o ministro dos negócios estrangeiros a usar uma sunga vermelha numa praia menor do litoral alentejano.
O que realmente me preocupa é o facto dos portugueses insistirem em compartimentar as opiniões alheias em gavetas inexplicáveis. Para mim as coisas não são monocromáticas. Nem bicromáticas. Para mim quem faz greve, para atrasar «conscenciosamente» a economia do seu país, é um perfeito retardado. E quem maquilha as opiniões bacocas da sua central sindical também é um retardado. E não me venham cá com merdas paternalistas acerca da minha parca formação intelectual, porque por mais parca que ela seja, e por mais «divertidissimo» que seja este blog, um grevista será para mim sempre um labrego, independemente da cor da minha (e já agora, da sua) opinião política.


Nota: E sem saber ler nem escrever este blog ultrapassou (pela esquerda e com os pisca-piscas da praxe) as duzentas mil visitas. Se pensarmos que cada visitante tem, em média, 1,60m de altura (descontando os anões, os cavalos e as mulheres desnudas) isto equivale a uma fila pilinha de 320.000 km. O mesmo que ir de Lisboa a Pequim 32 vezes. Nada que impressione um funcionário público num guichet de uma qualquer repartição deste país.

quarta-feira, junho 06, 2007

A Razão dos Rapa Nui

rapa nui

A CGTP fez hoje um balanço positivo da greve geral de quarta-feira, considerando que “teve um forte impacto na redução da actividade económica e nos serviços públicos” e dizendo que contou com a participação de mais de 1,4 milhões de trabalhadores.

Público Online, 6.06.07

Sempre que leio estas coisas concluo que vivo num pardieiro que promove a bestialidade diletante sem qualquer objectivo que não seja destruir qualquer possibilidade de «isto» vir a ser um país.
Uma entidade que se orgulha de promover uma «forte redução da actividade económica» só pode estar a gozar com cada um dos 10 milhões de cidadãos nacionais que insistem continuar a viver em Portugal.

Portugal e os seus sindicatos fazem-me lembrar os Rapa Nui, uma tribo polinésia que habitava a Ilha da Páscoa. Depois de anos e anos a desgraçarem a sua própria ilha, exterminando todos os seus recursos naturais para construirem um sem número de estátuas ridículas que não serviam para nada (uma espécie de Otas lá do sítio), os Rapa Nui acabaram por se extinguir a si próprios numa luta estupidificante pelo poder sobre um território que não interessava nem ao menino Jesus. Hoje em dia os Rapa Nui são lembrados como uma tribo de imbecis suicidas risíveis. Um belo exemplo para a nossa nação.

terça-feira, junho 05, 2007

A Razão do Enviado Especial

enviados especiais
O que torna um enviado especial, especial? Não é uma questão de resposta fácil se pensarem um bocadinho. Já repararam que a existência de um enviado especial tem automaticamente implícita a existência de outro enviado que não é especial? A verdade é que alguma coisa ou pessoa só é especial porque existe um número muito maior de outras coisas ou pessoas que não o são, que são banais.
E aqui é que a conversa se começa a tornar interessante: já alguma vez viram um enviado banal? Já viram alguma cadeia de televisão transmitir em directo a reportagem de um enviado banal, algures num palco de guerra qualquer, ou num apartamento algarvio de férias de um casal britânico disfuncional? Claro que não. Aparentemente os enviados banais não têm grande jeito para falar para as câmaras nem para dar nas vistas. Ao contrário dos enviados especiais, que falam pelos cotovelos, com um auricular no ouvido e uma calma olímpica num campo de batalha sobrevoado por mísseis intercontinentais que ocasionalmente alteram, com estrondo, o recorte da linha do horizonte.
Uma coisa que também tenho reparado é que os enviados especiais têm compreensão lenta, e que esta é directamente proporcional à distância que eles se encontram do seu país de origem. É verdade. Já repararam que quando um repórter do estúdio fala com um enviado especial no outro lado do mundo este leva algum tempo a assimilar a pergunta antes de responder? Há quem se desculpe com os satélites, mas a verdade é que o enviado especial é um bronco que tem de processar a pergunta várias vezes antes de conseguir responder.
Isto está certamente relacionado com o facto que torna o enviado especial, especial. Tudo começa na entrevista de recrutamento dos enviados: aqueles que levam mais tempo a responder às perguntas do entrevistador são normalmente recrutados. São gajos, por assim dizer, especiais…

sábado, junho 02, 2007

A Razão do Big Bang

big bang
No início criou-se o Universo, facto que irritou muita gente e que foi largamente reconhecido como uma má jogada.

Douglas Adams

quinta-feira, maio 31, 2007

A Razão do Joelho do Eusébio

joelho do eusebio
O rapaz tinha talento e não havia ninguém que o negasse. O rapaz tinha tanto talento que acabou por se tornar num ícone do país (um bocadinho como agora tentam fazer com o Cristiano). Naquele tempo, o que importava mesmo era o rapaz e a rapariga que cantava fado. Para qualquer lado do mundo onde fôssemos, desde o condutor de tuc tuc malaio ao sherpa tibetano, todos conheciam o nome do rapaz (que soava esquisito em cada sotaque). Para muita gente por esse mundo fora, o país e o rapaz eram a mesma coisa. Para nós o rapaz era um herói que um dia nos fez sonhar. A dada altura o rapaz teve um problema no joelho. As cartilagens do joelho do rapaz começaram a acusar o cansaço de aguentar todo aquele talento, jogo após jogo. E o rapaz tinha dores inimagináveis sempre que jogava. Para o rapaz continuar a dar espectáculo e a distrair-nos daquilo que andava à nossa volta decidiram dar-lhe injecções de cortizona no joelho. E durante algum tempo o rapaz jogou como se não tivesse dor. Mas aquilo custava-lhe.
Sempre que o rapaz se queixava, alguém lhe espetava uma injecção no joelho. Até que o rapaz só conseguia jogar nos últimos 10 minutos do jogo. E que 10 minutos! Era pura magia naqueles 10 minutos.
Um dia, o rapaz deixou de conseguir jogar os últimos 10 minutos. Já não tinha cartilagens no joelho, a rótula começou a desgastar-se e a desaparecer, e o rapaz deixou de conseguir correr e rematar. Por mais injecções que lhe dessem no joelho, já não havia nada a fazer. O rapaz já não tinha condições para continuar.
Sempre que invoco esta triste história do Eusébio, e do aproveitamento carniceiro que fizeram do seu talento, lembro-me do que o José Sócrates mais a sua vara de acólitos anda a fazer a este país. Neste momento andamos a jogar os últimos 10 minutos com os joelhos atestados de cortizona e os gajos insistem em dar-nos a injecção. Cartilagens já não temos. Temos rótulas que parecem berlindes. Mas ainda assim há sempre um animal de agulha espetada para nos dar a injecção.

Um abraço ao Luís Veríssimo, dono desta analogia num outro contexto, que me inspirou este pequeno desabafo.

segunda-feira, maio 28, 2007

A Razão Nua e Crua

O mundo do marketing e da publicidade. Sem espinhas.
Visionamento não recomendável a quem estiver em início de carreira.


terça-feira, maio 22, 2007

A Razão da Loja de Conveniência

loja de conveniência
Ontem ao fim do dia acabaram-se-me os cigarros. Como sou daqueles que ficam nervosinhos quando não têm um maço de tabaco por perto decidi sair para o comprar na loja de conveniência aqui perto de casa. Eis que, pelas 22:30h, a loja de conveniência já tinha fechado – algo que contraria toda a razão de existência de uma loja conveniência. Descobri então que tenho uma loja de inconveniência no meu bairro. Que inconvenientemente abre às horas convenientes para os seus empregados. O conceito pareceu-me bom: afinal de contas há por aí tanta loja de conveniência e a concorrência, nos dias que correm, é tão apertada que mais vale criar um novo conceito de loja. Ao menos é diferente.
Pensei um bocadinho no potencial de uma loja de inconveniência: horários flexíveis de acordo com a disposição para o trabalho dos seus funcionários; atendimento abaixo de cão com aquele ar de que me estão a fazer um favor em servir um café; instalações precárias e gordurentas, com estalactictes de gordura a partir do filtro do exaustor; com patrões estupidamente mal dispostos (com aquela má disposição atávica, como se todos os dias fossem dias em que o Benfica perde o campeonato) a coçarem a bolsa testicular com a mão com que servem o queque, e a recuperarem uma escarreta do fundo da sua garganta para a aplicarem no pano de limpeza, dando mais lustro ao balcão enquanto descompõem aos berros a anafada mulher na cozinha.
Foi então que percebi que isto não era muito diferente daquilo que encontrava por aí, e que afinal o país, para além do meu bairro, é pródigo em lojas de inconveniência. Não há-de ser com este conceito diferenciador que hei-de enriquecer. Adiante.

domingo, maio 20, 2007

A Razão do Processo Democrático

processo democrático

Democracia é um processo onde as pessoas são livres de escolher o homem que será o culpado de tudo.


Laurence J. Peter

sábado, maio 19, 2007

A Razão Parental

paternal

Sejam simpáticos com os vossos filhos porque são eles que um dia irão escolher o vosso lar.


Phyllis Diller

quinta-feira, maio 17, 2007

A Razão dos Agarradinhos ao Poder

Carmona Rodrigues
Carmona é o cliente mais recente de uma reputada multinacional farmacêutica, especialista no desenvolvimento de um substituto químico para o Poder. Chamam-lhe a «metadona do poder» e a sua aplicação é essencialmente dirigida a indivíduos viciados em Poder que, por uma ou outra razão, se viram privados de o exercer.
A «metadona do poder» tem efeitos surpreendentes desde a sua primeira aplicação, fazendo com que os pacientes percam gradualmente uma série de comportamentos desvairados causados pelo exercício contínuo do poder.
Sujeito à medicação há cerca de 48 horas, Carmona já apresentava hoje alguns sintomas de normalidade, tendo decidido desistir da sua insana recandidatura à Câmara de Lisboa.
O tratamento com «metadona do poder» tem a duração, nos casos mais simples, de cerca de 10 meses, podendo no entanto haver reincidências. Portas é um caso típico de reincidência: desde Março que se recusa a tomar os comprimidos, apresentando sérios sintomas de regressão.
Já Santana tem sido um paciente exemplar, considerado um case-study mundial pela empresa farmacêutica que criou o produto, por ser o único caso onde se desenvolveu uma incompreensível dependência do fármaco. «Era suposto ter largado a medicação há mais de um ano, mas ele insiste em continuar a tomá-la e fica alterado quando se fala em desmame» afirma um responsável técnico da empresa.
O mercado português tem-se mostrado num dos mais rentáveis na comercialização da «metadona do poder», ao ponto da empresa avaliar tornar Portugal num mercado-piloto para outras variantes do seu produto: a «metadona autárquica» será brevemente testada no nosso mercado, mas onde a empresa deposita mais expectativas (pelo elevado potencial do mercado) é no lançamento da «metadona produtiva» - um fármaco especialmente concebido para funcionários públicos e cujo efeito desejado consiste em fazê-los trabalhar como se fossem nórdicos.
A reforma da função pública, falhada em termos políticos, poderá vir a dar-se com sucesso em termos químicos. Aguardemos. Sem medos.

A Razão dos McCann

mccann
Há aqui qualquer coisa que me escapa no caso da pequena Madeleine McCann, e sobre a qual ninguém diz absolutamente nada: a verdadeira, total e inequívoca incompetência negligente dos pais, a somar ao facto de, só na Inglaterra, existirem anualmente dezenas de casos por resolver de crianças desaparecidas.
Os nossos media, tão barrasqueiros e exaustivos a explorar as misérias nacionais, quando toca a estrangeiros têm aquela atitude cabotinamente provinciana de admitir tudo.
Se o casal McCann se chamasse Silva estaria a ser crucificado pela generalidade dos media nacionais, e os gêmeos que sobraram estavam a ser entregues à Assistência Social por manifesta e demonstrada incompetência dos pais, em conseguir assegurar a segurança dos seus filhos. Como o casal de incompetentes negligentes é inglês nada acontece. Até pelo contrário. São retratados pelos media nacionais como pais extremosos em pungente sofrimento. Que palhaçada magistral.
E depois temos os media dos «bifes» a achincalharem o nosso país, a nossa segurança e a competência das nossas forças policiais.
Uma coisa é nós, portugueses, achincalharmos as nossas forças policiais, outra coisa é um «bife» achincalhar as nossas forças policiais. Ainda por cima em defesa de um par de pais que, como já todos percebemos mentiram copiosamente: não só não ligaram nenhuma aos filhos enquanto jantavam descansadamente a um quarteirão do apartamento, como não foram de meia em meia hora verificar se os filhos estavam bem, como não tinham qualquer visibilidade para o apartamento (estavam no quarteirão oposto e com muito betão pela frente). Os testemunhos dos empregados de mesa do restaurante onde iam todas as noites comprovam-no. Por isso, quando vejo a senhora McCann a dar entrevistas à televisão com um urso de peluche na mão só me apetece mandar-lhe uma tribo somali ao seu apartamento (grátis por toda a estadia que decidiu prolongar).
Convém ainda referir que o custo de uma babysitter no Ocean Club da Praia da Luz é de 50 euros e que o casal, de médicos pelo que sei, não esteve disposto a pagar por esse serviço nas noites que ali permaneceu.
Os McCann foram incompetentes e mentirosos. E toda a gente já o percebeu. Portanto, porque é que ninguém fala disto?
Esta nossa mania ancestral de dar razão e calar a tudo o que vem do estrangeiro continua a ser a nossa ruína. E os ingleses continuam a achar que isto ainda é o seu quintal. A ancestralidade é lixada.

quarta-feira, maio 16, 2007

A Razão Reactivada

reactivada

Estes mesitos sem escrever fizeram-me olhar para os blogs de outra maneira e de percepcionar o quão parecidos eles são com os nossos funcionários públicos.
É verdade. Mesmo que não se escreva nada neles, mesmo que não precisemos deles para nada, eles continuam aqui – firmes e hirtos numa espécie de vida suspensa, à espera que o seu autor se lembre de os actualizar ou de os apagar.
Tal qual um funcionário público a vegetar atrás de um qualquer balcão, sempre a carimbar as mesmas folhas com os mesmos carimbos, eternamente à espera da idade da reforma.
Se ao menos fossem tão fáceis de apagar como a um blog...

domingo, janeiro 28, 2007

A Razão do Júri

juri

Um júri consiste num grupo de doze pessoas escolhidas para decidir quem tem o melhor advogado.


Robert Frost

sábado, janeiro 27, 2007

A Razão da Reputação

reputação

Já repararam quando dá na televisão a captura de um tipo procurado pelas autoridades e ele passa diante das câmaras, escoltado pela polícia, a cobrir a cara com os braços, com o jornal ou com o casaco enfiado por cima da cabeça? O tipo estará preocupado com o quê? Estará preocupado com o efeito negativo que esta exposição mediática possa ter no seu bom nome e reputação? Será que o indivíduo estava à espera de ser promovido lá no emprego e tem medo que o patrão esteja em casa a ver as notícias?
«Aquele ali não é o Osvaldo das vendas? Então mas o gajo andava a fazer assaltos à mão armada nos transportes públicos? Não sei este é o tipo de pessoa que eu quero a trabalhar no meu departamento de vendas. Não era mal pensado transferi-lo para as cobranças difíceis. O gajo tem jeito para aquilo.»

Adaptado de Jerry Seinfeld

sexta-feira, janeiro 26, 2007

A Razão da Sala de Espera

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A sala de espera é um conceito curioso. Porque é exactamente aquilo que o nome indica: a malta vai para uma sala e espera. Espera até que nos venham chamar. Não tem nada a ver com as salas de estar. Nas salas de estar podemos sempre optar por não estar, muito embora elas continuem a ser designadas por sala de estar. Nas salas de espera não há hipótese. Temos mesmo que esperar, caso contrário estas não fazem sentido. Nem sequer faz sentido nós esperarmos. É tudo muito esquisito, na realidade.
Como a malta, de um modo geral, não tem grande paciência para esperar, as salas de espera são uma verdadeira seca para a maior parte de nós. Mas não para mim. Gosto das salas de espera. Gosto de passar lá eternidades. São uma verdadeira fonte de inspiração.
Se estou à espera de uma consulta médica na sala de espera costumo olhar para a malta que espera comigo e imaginar que tipo de doenças eles terão. A experiência é muito mais rica dependendo da especialidade médica em questão: se estou no dentista olho para o gajo à minha frente e imagino o estado putrefacto das suas gengivas. Se estou no dermatologista imagino que o tipo deve passar umas noites tramadas a coçar-se que nem um animal. Se estou no oftalmologista consigo topá-lo a fazer um esforço para ler, incompreensivelmente por falta de visão, um relatório que determina que ele e toda a sua equipa serão despedidos no próximo mês. Se estou no gastroentologista consigo revê-lo a peidar-se tão abundantemente que toda aquela produção de gases daria lucro à Gás de Portugal.
As salas de estar das empresas também são altamente produtivas: nelas vejo a secretária que come o patrão; o escriturário que tem fantasias sexuais com um marcador luminoso; o paquete rebarbado com a executiva; a executiva a querer dar para quem passa. Enfim, um verdadeiro ecossistema de javardice impronunciável.
Mas é nas salas de estar da Função Pública que a coisa atinge o nível do nirvana: não se passa nada. Nada mesmo. Até se tem alguma dificuldade em perceber se aqueles seres atrás do balcão têm funções respiratórias. É a sala de espera em todo o seu esplendor.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A Razão das Manifestações a Pagantes

manifestacoes a pagantes
Há muito, muito tempo atrás escrevi que «há uns anos atrás a malta quando protestava fazia-o à séria». Hoje tive mais uma constatação deste facto ao descobrir que uma empresa alemã aluga manifestantes para protestar em causas avulso. A coisa funciona assim: vocês têm uma causa qualquer. Até pode ser uma boa causa. Daquelas causas em que até apetece morrer por elas. Mas em vez de causarem o incómodo a alguém que vos terá que assinar a vossa certidão de óbito, optam por alugar umas centenas de manifestantes que protestarão vigorosamente pela vossa causa arriscando-se, em vosso lugar, a levar porrada de uma valente carga de GNR’s rebarbados e sebosos.
Assim vai o estado dos ideais na bela Europa. Os netos dos gajos que fizeram o Maio de 68 vendem-se para manifestar pelo que quer que seja. Fico curioso por saber o que os alucinados do glorioso PREC pensam sobre isto. É que uma matracada na tromba por uma boa causa tem outro sabor. É como roubar maçãs do quintal do vizinho: sabem infinitamente melhor – aliás, uma maçã comprada é sempre uma maçã estragada.
É claro que se a ideia pegar em Portugal quem se vai lixar (como sempre) é a Função Pública. Com todos aqueles putos a manifestarem-se impunemente por dinheiro (situação que não fica muito longe das manifestações prostitutivas da Função Pública) como é que aquelas alimárias podem justificar os dias de falta para se manifestarem contra o «roubo do seu tacho»?
Estou a pensar abrir um franchise da empresa alemã em Portugal. Só para chatear.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

A Razão das Caixinhas

caixinhas
Desde que saíram da caverna, os seres humanos têm uma apetência natural para viverem em caixinhas. Todos os dias, saímos de dentro de uma caixa a que chamamos casa, entramos numa outra caixa a que chamamos automóvel e conduzimo-la até uma outra caixa a que chamamos emprego. Viajamos em caixas atreladas umas às outras que andam em cima de carris, em caixas que flutuam na água e até em caixas que voam. De vez em quando gostamos de ir dançar para dentro de caixas ruidosas, ou de passar um tempo com os amigos em caixas que têm como função servir substâncias líquidas mais ou menos entorpecentes e etilizantes. Há caixinhas para tudo e mais alguma coisa. São poucas as coisas que se fazem fora das caixinhas. Talvez por isso as férias constituam quase sempre um bom motivo para passar a maior parte do tempo fora das caixas, ou pelo menos em caixas diferentes das habituais
A vida parece consistir numa sucessão de caixinhas em catadupa. Uma após outra. Já nem reparamos nelas. Fazem parte desta caixinha grande a que chamamos Terra e de onde conseguimos observar um conjunto de outras caixas grandes e distantes, questionando se existirão por lá outras caixinhas habitadas.

Até aqui, nesta fatia de internet, gostamos de nos arrumar em caixinhas. Reparem bem na forma deste blog…

sexta-feira, janeiro 19, 2007

A Razão do Maior Português

maior portugues
Tenho dificuldade em entender esta votação do «Maior Português». Principalmente quando olho para o resultado das votações e vejo figurinhas como o Pinto da Costa, o Ricardo Araujo Pereira, e o Saramago (esse esbirro nobelizado) nos 100 mais votados. Afinal a votação é para o «Maior Palhaço Português»?
Outra coisa que salta à vista nesta votação, para além dos palhaços e dos palhacinhos, é que a maioria dos candidatos está morta. É verdade. A shortlist dos 10 portugueses finalistas não tem ninguém vivo. O que me leva a concluir que, para a maioria dos portugueses, o maior português é o português morto. Isto diz muita coisa sobre como os portugueses se vêem a si próprios: um tipo só é bom e grande quando bate as botas. Enquanto está vivo o português é sempre pequenino. Daí que eu acharia mais plausível que o melhor teria sido eleger o «Português Mais Pequenino». A votação ficaria não só mais rica em participações, como renderia muito mais dinheiro à RTP.
No final da votação do «Português Mais Pequenino» teríamos certamente 10 finalistas extremamente contemporâneos: todos vivinhos, invejosozinhos, corruptozinhos, indigentezinhos e sempre cheio de expedientezinhos. O difícil seria limitar a eleição a 10 finalistazinhos.

Na actual lista a minha escolha é o Aristides de Sousa Mendes. Mas não como o maior português, porque a abnegação que o homem demonstrou não é uma característica nacional. Até muito pelo contrário. O mais certo seria que, como bom português, o Aristides tivesse acatado as ordens superiores e não se aborrecesse muito com os refugiados judeus que lhe batiam à porta. Não seria certamente um problema dele.
Voto no Aristides porque, daquela listinha, foi o melhor ser humano.