quarta-feira, fevereiro 08, 2006

A Razão do Choque Tecnológico

choquetecnologico
Está na moda falar em «choque tecnológico», uma das medidas mais mediatizadas do Governo desta telenovela mexicana, e que parece ser a cura para todos os males do país. Assim de repente, com Bill Gates à mistura, parece que Portugal voltou a ser um país próspero e importante com esta história do «choque tecnológico». Os media rejubilam com a expressão «choque», sugerindo-lhes alguma coisa impactante e rimbombante, digna de um qualquer noticiário. Eu continuo chocado com tudo isto porque me parece, mais uma vez, que estamos a ser engrupidos com conceitos, no mínimo, vagos. Principalmente porque sempre ouvi dizer que Portugal era um país que adoptava e implementava a um ritmo muito rápido tudo o que era nova tecnologia: a Via Verde por exemplo, onde somos pioneiros no mundo; o sistema de Multibanco, outro exemplo, onde somos o país mais avançado do mundo na aplicação de um sistema de informação interbancário; o telemóvel pré-pago, outra invenção portuguesa que revolucionou o mundo dos telemóveis em todo o mundo e que hoje em dia é o sistema mais utilizado no planeta.
Por sermos tão avançadinhos tecnologicamente é que esta converseta não me faz sentido nenhum. A não ser que quando falemos em «choque tecnológico» estejamos a falar de coisas mais pragmáticas do tipo: destruir à paulada todos os computadores do país; enfiar (com uma relativa violência) a cabeça do Sócrates, e já agora de todos os membros do executivo, num ecran plasma de última geração; atestar a força destrutiva de um laptop quando arremessado a uma velocidade superior a 20 km/h na direcção de umas gengivas desprotegidas. Isso sim, seria um choque tecnológico. Não teria grande interesse, é verdade, mas ao menos não seria um conceito vazio onde tudo cabe.
Continuo a achar que o nosso Desgoverno está equivocado. Preferiria ver o mesmo entusiasmo bacoco e provinciano aplicado a um «choque económico», ou a um «choque social», ou a um «choque ético», ou mesmo um «choque de civilidade». Eu por mim começava por estes dois últimos e logo me preocupava com o «choque tecnológico» mais tarde. O que este país precisa mesmo é de uns electrochoques.

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