terça-feira, novembro 30, 2004

A Razão dos Americanos

redneck

Numa das minhas idas a Inglaterra ouvi uma turista americana perguntar a um descontraído velhote londrino “How beautifull… is that building pre-war?”, “No Milady” respondia ele com um ar enfastiado “It’s pre-America.

Os americanos são, como sabem, um dos povos mais abertos do nosso planeta: têm uma noção globalizante do mundo que os rodeia; são curiosos por descobrir e aprender com outras culturas; falam uma quantidade de línguas diferentes; têm uma perspectiva muito espiritual do mundo; e acreditam que dentro de cada um de nós há um americano a querer saír.
Ultimamente este maravilhoso povo tem vindo a observar uma queda de popularidade no mundo ocidental e anda a lidar mal com o facto. De país dos bravos e pátria dos livres passaram, nos últimos anos, a ser vistos como uns cabotinos mimados que gostam de se armar em polícias do mundo.

E então decidiram fazer aquilo que qualquer cabotino mimado faria no lugar deles: um livrinho de bolso que os ajudasse a lidar com tudo aquilo a que não é americano.
O livrinho tem um nome pomposamente americano, claro está, e contém todas as informações necessárias para se poder circular pelo planeta na condição de americano. Hilariante… eles é que têm razão.

Se houver por aí algum americano com problemas em lidar com a cultura portuguesa (já não bastam os portugueses a lidar mal com a sua própria cultura), pode fazer o download desta pequena pérola da civilidade pluricultural aqui.

A Razão do Dinheiro

Nicole
A Nicole Kidman entrou no livro de recordes do Guinness 2005. Foi pelo número de prémios que ganhou como actriz? Não. Foi por ter as pernas mais longas da história do cinema? Não. Foi por se ter separado do mastuço do Tom Cruise? Também não.
A razão para a senhora entrar no livro de recordes deve-se ao facto de ter recebido o maior cachet publicitário de sempre num anúncio de publicidade da Channel nº5. A jovem talentosa Nicole recebeu a módica quantia de 2,8 milhões de euros num filme publicitário que no total valia 20 milhões de euros. Numa altura em que em Portugal se fazem “grandes produções” por 100.000 euros, parece-me que não há razão de andarem a veicular estas notícias nos jornais portugueses. É a mesma coisa que mostrar um delicioso bolo de chantilly a um desses meninos dos campos de refugiados e depois dizer-lhe que vá comer a côdea bolorenta que guardou debaixo do cobertor esburacado. Não há razão

A Razão dos Cardiologistas

cardiologista

Vi há pouco tempo num telejornal que o hospital de Portalegre está sem cardiologista. Já fizeram trinta por uma linha para recrutar um cardiologista mas nada. Não há em Portugal um único cardiologista que queira ir trabalhar para Portalegre.

Fui indagar porque razão é que esta categoria médica se recusava a trabalhar num hospital distrital do Alto Alentejo e entrevistei alguns cardiologistas. A maior parte deles afirmou não abdicar de uma vidinha fácil em Lisboa ou no Porto onde podem fazer umas horitas no hospital e ganhar mais algum por fora em vários consultórios médicos. Alguns disseram que não aguentavam o frio e que a casa que estava disponível em Portalegre não tinha aquecimento central. Outros não gostavam (?) da gastronomia alentejana. Alguns ainda queixavam-se de dores no artelho. As razões enunciadas foram muitas.

O que vai acontecer provavelmente em Portalegre é contratar-se um cardiologista espanhol. Esses aparentemente têm ainda presente o juramento de hipócrates e fazem medicina porque provavelmente acham que é uma maneira de dar uma melhor qualidade de vida a quem precisa. Em Portugal a medicina serve para dar qualidade de vida a quem a pratica.
E quando o tal cardiologista espanhol chegar a Portalegre, e se sentar na sua secretária, iremos ouvir um chorrilho de queixas ressabiadas, que isto está entregue aos espanhóis e que qualquer dia falamos todos castelhano. Esta é uma razão muito portuguesa: mais vale pobres, miseráveis e doentes do que ricos, construtivos e saudáveis.

domingo, novembro 28, 2004

A Razão do Picanço Criativo

picancos

Ser-se criativo numa agência de publicidade é lixado. 24 por 24 horas a debitar ideias sob pressão. As campanhas indexadas a objectivos de vendas e remuneradas em função de resultados. A gestão da agência completamente histérica com a performance da comunicação. O director criativo a querer ganhar mais prémios que os outros meninos das outras agências. É lixado… então alguns criativos recorrem à “ultimate inspiration”: o trabalho de outros criativos. E assim, num puro exercício de autofagia profissional, desatam a picar o trabalho de outros.

O picanço, meus amigos, é a ausência de razão. É ser-se anãozinho e andar-se às costas de outros pensando que se tem 2 metros de altura, e que afinal se devia ter feito uma carreira na NBA. É confundir-se a obra-prima do mestre com a prima do mestre-de-obras.